domingo, 15 de novembro de 2015

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Por quem dobram seus joelhos...



(Jornal de Caçapava, 13 de novembro de 2015.)


Estive em Aparecida sábado passado. Levei minha mãe e minha tia acompanhadas dos meus filhos. Mas antes de tudo eu me levei. Retomo meus escritos sobre o Vale do Paraíba. Essa caminhada que começou pelos mistérios, passando pelos personagens enigmáticos, agora se direciona para os lugares e as pessoas que dão vida à paisagem. Sim, sempre as pessoas.

Reinicio minha caminhada por Aparecida, cidade que nasceu de uma das mais belas histórias do rio Paraíba do Sul. Uma história de fé dos pobres, fé dos piraquaras, fé dos negros escravizados. Fé dos milhares de romeiros que, a cada ano, se dirigem para as margens, agora distantes, do rio de águas sagradas.

Aparecida é uma cidade que, à primeira vista, pode não seduzir olhos estreantes pela beleza. Ruas apertadas, morros, excesso de comércio e ambulantes que impedem um caminhar mais sossegado. Confesso que aprecio mais os arredores da antiga Basílica: história, lenda e devoção se entrecruzam com a diversidade de cores e pessoas. Jovens, crianças, idosos carregando as marcas do tempo e um semblante de esperança do que buscam.

As pessoas são o que de mais especial encontramos em Aparecida, além, claro, da substância do conceito de mãe. Isso ainda mistério para a humanidade.

Já tive a tentação e pouca humildade de achar absurdo alguns pagadores de promessas; quando via aquelas pessoas se arrastando, ajoelhadas, me vinha a soberba de pensar que era demais. O tempo, o amadurecimento e a vida se encarregam de nos dar as, realmente, importantes lições. Hoje, quando vejo os pagadores de promessas, em sua entrega mais profunda, só me vem ao pensamento que cada um sabe por quem dobra seus joelhos.

Sim, por quem. Por si mesmo, por outros; sempre por quem.

Desta feita, passei na redação do jornal O Lince, conversei com Alexandre Lourenço Barbosa sobre livros, jornais, histórias e pessoas as quais prezamos muito. Ganhei livros muito especiais e tomamos um café maravilhoso feito por sua esposa. Depois de “romeirar”, passando pela passarela, olhei com olhos de amor aqueles que dobravam seus joelhos e pensei nos tantos viveres nossos de dores, alegrias e gratidão.

Amém!

Sônia Gabriel


Típica...








segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Considerações de fim de tarde.


(Jornal de Caçapava, 29 de maio de 2015.)





Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Passado que alimenta a poesia.



(Jornal de Caçapava, 24 de abril de 2015.)


Por esses dias, estive numa apresentação musical no Cine Santana, espaço que preenche a geografia e as emoções de quem vive e ou trabalha (como eu) no mais charmoso bairro de São José dos Campos. Em se tratando de lugares há aqueles que são suntuosos, chiques, populares, da moda, glamourosos; mas pouquíssimos, nos dias de hoje, têm alma autêntica. Santana é um bairro que além de muitas outras agradáveis características, tem essa alma, um jeito tão peculiar que nenhum outro bairro poderia se igualar. Coisas que só entende quem sempre atravessa a ponte seca.

Mas voltando ao Cine Santana, recebi das mãos do autor Jorge Pessoto seu livro “O Pretérito das horas” quando da minha ida para apreciar boa música. Delicado presente que muito me honrou. Agradeci a gentileza e me propus a ler durante a semana, pois os dias estão lotados de apostilas para dar conta de técnica leitura. Já em minha casa, a curiosidade foi mais urgente. Li de uma tacada só, pois é prazerosa a caminhada por suas linhas cheias de “saudade”; “tesouros perdidos” até que alguém se preste a procurá-los e mereça achá-los; moças esperando amores; “poetas embriagados” que creio saibam viajar pelo passado e pelo presente e “poetas falidos” (intrigante, eu admito). Jorge Pessoto escreve como quem fala de um parente muito próximo, escreve com intimidade com as vielas que se propõem a eternizar. Contraditoriamente, viajei tranquila pelas antigas ruas lapidadas por suas histórias em versos; ruas que ele diz esquecidas, das mortas cidadelas das quais ele não se esquece. E por não esquecer-se as mantém vivas. Se agora é nesse exato momento, o passado é uma imensidão de, licença poética, agoras que faz aquilo que chamamos de hoje.

O Vale do Paraíba é assim, real ou fictício por desejo ou por ignorância daqueles que dele querem o que querem. Sinto que o autor se alimentou da vontade nascida de uma saudade (a que ele tanto recorre, legitimando-a), reconhece e nos entrega o “O Valor das Miudezas”, nos descrevendo a velha costureira e eu imagino, a partir de sua descrição, que o melhor que costurava eram os sonhos; que o que dava liga aos seus cozinhares era carinho; que de tão singela alimentou o imaginar do autor. Cidades mortas cheias de gente viva, com pessoas que esperam enquanto descansam da labuta e anseiam pela colheita e zelam pelas plantas e esperanças, amados pelo Paraíba e pela Mantiqueira enigmáticos. Vale do Paraíba, dos que andam por suas ruas, margens e morros...

Naquela página fiandeira, lamentei pelos vestidos nascidos “para as missas / E, raramente, para casamentos.”, pois eu amo casamentos. Ah, as donzelas que Jorge Pessoto descreve; melhor lerem, sinto que guardam histórias que não podemos. E aqui, me atrevo a considerar, Jorge, que quando os “sonhos escapam” é para viverem, sonho quer ser realizado, escapa para SER. Dos seus que escaparam encontraram-se com a impressora, acertei? Mas se os sonhos escapam, a alma foge para a rua, pois na rua o olhar para o casarão é mais amigo e se “a alma quer um porto” o busca por meio da poesia. Percebo os amores que quase fogem do controle do seu teclado, mas não se evidenciam deixando sempre um ar de mistério de algo que ainda não foi dito; há um aparente romance entre a alma e o tempo em seus versos, ambos se desencontram, o autor aqui se torna o arquiteto a construir ruelas, ladeiras, janelas e praças para que esse encontro se faça?

Encontrei muita graça quando em “O Passeio de Casa até a Praça”, a tinta desenhou “um sossego desesperador e inquietante.” E mesmo diante desse retrato vejo que o observador não se impediu de sorver as belezas do caminho e elas estão aqui linha após linha, carregadas das nuances, cores e humores do seu autor que enfim não esteve a “poetar inutilmente e sem sentido”.

Prezado autor, eu não sou talhada para a crítica nem nunca serei, meu ofício em relação às letras é outro, vivê-las e apenas. Não tenho a competência para analisar literariamente seu trabalho, mas posso como leitora dizer que foi um prazer ler suas linhas e me vi, sim, muitas vezes, caminhando por nossas antigas e sedutoras ruas vale-paraibanas repletas das histórias que eu tanto amo. Obrigada por escrever. Sucesso.

Sônia Gabriel


Jornal O Lince - Aparecida



Alexandre Marcos Lourenço Barbosa, seu trabalho sério e competente já abriu as portas para muita gente. Eu sou fã do Jornal O Lince, e mais do que fã da leitura, sei da importância que o jornal tem para o Vale do Paraíba. Minha coleção se ampliou com sua generosidade e pretendo continuar com essa leitura atenta. Ah, a edição do livro "Dez histórias", do especial Tom Maia, está excelente; já estou me deliciando com as histórias. Foi um prazer revê-lo, é uma alegria continuar nossas conversas. Obrigada pelo carinho com que recebeu minha família (café maravilhoso!). Em março, estarei ai... Bom trabalho para todos nós! Paz e bem!