quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Perguntara-me.



(Jornal de Caçapava, 20 de janeiro de 2017.)



A professora Dona Cíntia, da antiga quarta série bem feita, ensinou-me que usando a expressão ‘perguntaram-me’ eu estaria indeterminando o perguntador. Que assim seja, pois apesar de em nada ser da minha conta a ação contida, uma pergunta me foi feita e pensando sobre ela, mesmo não a tendo respondido, pois não tenho competência para tanto, encasquetada em minhas considerações ficou.
Uma amiga querida, preocupada com outrem, contou que outrem estava em saia justa com quarto elemento de tanta consideração (por Deus!) por ter concretizado atitude que poderia culminar em prejuízo para... Mas nada proposital, ação realizada pós conversa-quase-permissão. Porém, ficou aquela sensação, pelo jeito do desenrolar todo,  que poderia não ter sido bem assim, ao menos pareceu-me, pois tem muita gente preocupada com o que pensou um ou outro, enfim.
Que mundo é esse onde o outro é tão pouco perante nossa pretensa importância, não é mesmo? Estamos a cada dia, desesperados em estar mais que o outro. Note que ninguém, aqui, está tendo a pretensão de dizer ser, pois ser entraria em outra categoria de seres humanos da qual temos nos afastado muito. Quase não encontramos mais médicos, professores, padres, motoristas, advogados, cozinheiros, jornalistas; encontramos pessoas que “estão” médicos, professores, padres, motoristas, advogados, cozinheiros, jornalistas... Ser subentende valores, ao menos para esta pobre criatura com pretensão de pensar. Valores? Andamos com muito medo dessa palavra. Reflexo da tal flexibilidade.
Como falar em valores se a flexibilidade capitalista nos exige um politicamente correto? Também não sei, tanto palavrório para que eu possa tentar entender o que meu coração não consegue e, por fim, voltar à máxima que minha mãe, sem diploma universitário, conseguiu impregnar em mim: “Pense se fosse você no lugar do outro... o que sentir é a resposta”.
Fato é que, na maioria das vezes, reconhece-se as respostas e com o ínfimo de dignidade que resta, precisa-se da aprovação em torno para conseguir diminuir o incômodo de conviver com algumas atitudes. O que é mais forte em nós sempre nos define no todo. Quando isso é bom, que se abram os corações.



Sônia Gabriel