quinta-feira, 16 de julho de 2009
Coluna Crônicas Jornal Valeparaibano: O Tijolo e a Gargalhada
O Tijolo e a Gargalhada
(Publicada no Jornal Valeparaibano em 16/07/2009)
Entrei, beijei meu filho que foi para a piscina e me sentei na cadeira de plástico branca, recostei-me e abri na página 321 o livro de Laurentino Gomes, o delicioso 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil (sim, este é o título do livro).
O livro, com suas 416 páginas, parece um tijolo e notei que a maioria das pessoas que passavam, estavam me olhando um tanto quanto atravessado. Continuei ali, me deliciando com o passado, com aquele ar quase ridículo de quem pensa que pode julgar os que já se foram e é fato que não podemos.
Mais de trinta minutos com os olhares intrigados comecei a ficar incomodada. E um tanto sem jeito. Passava um, ia para a natação, passava outro ia para a musculação, sentava um a direita, outros a esquerda, e eu cada vez mais me sentindo uma alienígena.
Caramba! O que é que esse povo tanto olha? Ninguém lê por aqui? Será que é o tamanho do livro? Arrumei melhor o corpo, organizei os cabelos e fingi que não me observavam.
E não é que não consegui continuar lendo?
Só então percebi a música alta, tenho uma facilidade enorme de me desligar quando estou lendo. E como faço isso em qualquer lugar, já paguei micos e passei por momentos engraçados. Um deles foi quando estava no endocrinologista, no tradicional consultório do Dr. Ivan Ascênsio, nesta. Lia alguns gibis. Chico Bento é disparado meu preferido.
A tirinha era hilária, comecei rindo apenas com uma esticadela dos lábios, meio disfarçando, depois já fazia um som discreto tentando me conter. Teve um momento que não deu para segurar, gargalhei, mas foi com gosto mesmo!
Nem todo mundo aprova gargalhadas, muito menos em público, de acordo com algumas pessoas chatérrimas que conheço jamais se deve gargalhar, quando muito uma risadinha com discretíssimo som, mesmo dentro de casa. E defendem que rir demais dá rugas, fortalece as marcas de expressão...
Voltando ao consultório médico, o casal sentado ao lado me olhou, como os que estão me olhando agora; fiquei sem graça e notei que o filho deles, que deveria ter uns vinte e cinco anos, com os olhos oblíquos e mãos juntinhas sorria timidamente e sorriam de minha risada, seu olhar estava fixo em mim e na revistinha, seu corpo quase o impelia para pedir o objeto de minha gargalhada, era óbvio que queria ver também, mas não me atrevi a emprestar-lhe, que pena!Que bobagem a minha. Parei de rir e estava quase contagiando mais um.
É isso! Consultório do endocrinologista estou atrasada com as consultas, entendi... Esse povo está achando ridículo, eu, um pouquinho, só um pouquinho fora do peso, sentada, lendo enquanto eu deveria estar andando para chegar a lugar nenhum, levantando ferro sem ser por lavoro e pulando num mesmo lugar sem ser festa de aniversário de criança.
Caramba! Que vergonha!
Ah! Mas espera aí, alguém tem noção do quanto pesa este livro?
Não é pouco garanto. E aqui conta a história de um gorducho, comilão de frango, que nunca se preocupou com as “gordurinhas” localizadas, não sabia o que era sedentarismo, e tem um monte de gente se ocupando em estudar sua vida ou comprando livros sobre ele até hoje, inclusive, eu.
Sônia Gabriel
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4 comentários:
Legal. Parabens...boa como sempre. mas cuidado com a paranóia hem (rsrs) Eu comecei assim...
abraços.
Milton
(...)Seus textos são sempre uma dádiva.
André
Sonia:
Além da gargalhada temos também os espirros escandalosos. Um amigo meu, quando espirrava na Praça da Sé quase assustava o público...
Nélson
Olá queria Sônia,
fiquei feliz, dei gargalhadas ao ler a crônica: O tijolo e a gargalhada.
Sim, eu ri porque amo ler livros grossos, mais de 400 páginas. E, com isso, me questionei essa semana sobre o tamanho do livro sobre Cora Coralina, tem 450 páginas. Isso mesmo, um tijolo, ótimo para praticar exercícios visuais - mais de 200 fotos; exercícios emocionais - dezenas de textos inéditos e exercícios físicos - carregá-lo junto aonde for... hehehehe. Com isso, também, adquiri peso, peso mental, peso físico e peso psíquico. Ficar o dia, e ás vezes, a noite toda escrevendo foi desgastante, e não fiz exercícios físicos - engordei! Ler os textos inéditos de Cora me ajudaram a ver a vida de outra forma - ser mais alegre, amar a tudo e a todos, nisso adquiri peso. E psicologicamente, a Cora religiosa me deu um banho de bondade - cresci no amor ao próximo.
Veja bem, Sônia, não só a leitura, mas, também, a escrita nos remete à gargalhada de satisfação e de amor.
Sejamos felizes.
Beijos,
Rita Elisa
Em 16/07
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