(Jornal de Caçapava, 14 de outubro de 2011.)
O olhar de quem observa é peculiar. Nada tem de similar a qualquer outro olhar. Ele não se esquiva para o vazio, não se consome na imensidão de imagens, não centraliza na razão, nem nas impressões aparentes.
O olhar do observador é curioso, porém com extremada gentileza. Não fere, não invade e não agride. É um olhar perene, de inclinação disfarçadamente tênue. Conscientemente passional, todavia não partidário. É uma paixão silenciosa, cúmplice de sentimento crente.
Quem observa, o faz por amor e cautela. Não se apressa nas impressões. Olha mais uma vez para ter certeza do que pensa estar vendo. Ajuíza o que viu para não se apressar nas certezas.
Quem observa, lê o que vê, analisa, interpreta, busca nos olhares alheias referências, dados para comparação e se alimenta de argumentos. Investiga os dicionários expressos na multidão de rostos, nos quais os distraídos esbarraram cotidianamente.
É fácil identificar o observador: ele silencia, enquanto todos gritam; ele está presente, enquanto há os que impõem sua presença; ele, diante do que realmente importa, serenamente, expressa, em segredo e leve ajeitar da face, saber o peso do que o absorve, a grandeza ou pequenez do que ocorre diante de seus olhos.
Conheço alguns dessa rara espécie de homo sapiens, tento aprender com eles o ofício de enxergar. Lição primordial que tem me possibilitado almejar ser melhor.
Sônia Gabriel
3 comentários:
Querida Sônia, que crônica linda; me emociionei com a riqueza de detalhes; parabéns. Parabéns mesmo!!
A gente vai exercitando, e a cada dia, com paciência e coração aberto, aprende um pouco mais.
Obrigada pela gentileza das palavras, paz e bem!
Sônia
Sônia, seu texto é de uma riqueza sem igual! Quando "crescer" quero ser como você! Parabéns!!!
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