quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Um pouco sobre Educação...


Problemas da Educação

(Publicado no Jornal Valeparaibano em 18/06/2004)

Segundo a Educadora Guiomar Namo de Mello, os problemas da educação brasileira passam por uma cultura escolar elitista, pela falta de visão estratégica por parte do governo, pela gestão pública ineficiente que gera uma falta de fiscalização das políticas públicas voltadas para a educação; a educadora enumera ainda a falta de aprofundamento por parte das mídias no Brasil quando o tema é a escola e as tendências educativas, e questiona os interesses corporativistas e a estrutura precária de formação do educador.
Nada de novo, mas a coragem de novamente bater em todas essas teclas é nobre. Todas essas questões são as mesmas que anos após anos os estudiosos e educadores sérios levam para suas salas de aula, mas eles são poucos. Todas as questões estudadas e largamente debatidas são de profunda pertinência, mas ainda penso que as mais relevantes das pertinentes se referem à formação de educadores e a visão elitista da escola.
Os mecanismos de verificação que o governo criou para desvendar a qualidade do ensino superior não são eficazes, e no que tange a cursos de licenciatura precisam ser revistos, modificados principalmente em relação aos professores universitários
Mestres que nunca entraram em uma sala de aula dos ensinos fundamental e médio, que conhecem a realidade de professores e alunos apenas dos livros e programas de televisão não podem nos ajudar a encontrar soluções reais para nosso cotidiano. Quem está na linha de frente quer ouvir respostas e está disposto a procurar por elas e até mesmo construí-las se esse é o fato, mas necessitam de auxílio. Precisamos de mestres que saibam do que estão falando, que compreendam a essência do pensamento pedagógico, que sejam capazes de discernir o novo do modismo inconseqüente. A reforma será bem feita se começar por aqueles que mexem com nossas cabeças e emoções, ensinar é algo vivo, mexemos com cabeças e emoções o tempo todo.
O conhecimento é mais que um punhado de títulos, de preferência que venha acompanhado, também de verdade. Todos os outros problemas da educação poderão ser compreendidos melhor pelos profissionais do ensino quando estes forem formados com uma visão de mundo que os permita compreenderem-se, compreenderem seu mundo, compreenderem o mundo do aluno e o próprio, com verdade.
Os educadores brasileiros que enxergaram a realidade e não se amedrontaram diante dela, nem se esconderam atrás de sua autoridade intocável de mestres, conseguiram ao menos dar sentido a sua profissão. Penso muito em Paulo Freire quando o desânimo bate, sua vida profissional teve sentido, longe de um apostolado, como muitos afirmam, vejo nele uma coerência profissional.
Eu não posso escolher os alunos que terei, são pessoas, serão sempre eles próprios, com suas alegrias e mazelas, com seus talentos e dificuldades, mas posso escolher o educador que serei, podemos todos fazer a diferença, e ainda acredito, como um João Batista gritando no deserto, continuarei afirmando que é preciso ensinar antes de cobrar.

Sônia Gabriel, São José dos Campos.



Devido texto acima, fui convidada a participar do programa do jornalista Roberto Wagner, ele escreveu sobre o debate. Foi um grande aprendizado para mim.
Fonte: http://www.valeparaibano.com.br/, acesso em 10/12/2008.
"Conversa de Domingo
Roberto Wagner de Almeida
Ponto de Vista
Ainda a Questão da Educação
Há cerca de um mês, fiz aqui um comentário cético, sob o título "Brasil, Pátria da Ignorância". Baseava-me, então, em dados divulgados pelo próprio Ministério da Educação que, após a realização do SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, chegara a resultados estarrecedores. Por exemplo: 55,4% dos alunos da 4ª série do ensino fundamental, tanto de escolas públicas quanto privadas, estão em situação "crítica" ou "muito crítica", significando que mal sabem ler ou escrever, pois "não compreendem textos simples". O mesmo SAEB constatou que 68,8% dos alunos da 3ª série e 57,1% da 8ª série estão em situação "crítica" ou "muito crítica" no que diz respeito à matemática, porque "não sabem fazer operação de soma ou subtração envolvida em um problema". Imagine-se o que aconteceria se tivessem que multiplicar ou dividir. Indaguei então, e volto a indagar agora, o que podemos esperar de um país cuja juventude se revela cada vez mais ignorante? Indaguei também como se explica que, embora todos reconheçamos que a educação é base fundamental na construção de um país, não haja um único governante nosso - do município à federação, passando pelos estados - que faça do ensino nas escolas a sua prioridade máxima.

Esse tema me preocupa tanto, que promovi, dias depois, em meu programa de entrevistas e debates no rádio, o "Show de Idéias", um debate a esse respeito. Tive como convidadas uma professora da rede estadual, Denise de Paula Costa, uma da rede municipal, Flávia Camargo, uma de escola particular, Sônia Gabriel, e uma psicopedagoga, Cecília França. Nenhuma pôs em dúvida a exatidão das constatações do SAEB, todas concordaram que a situação é realmente aquela apontada na avaliação nacional feita pelo Ministério da Educação. Ao longo das duas horas do programa, tivemos muita intervenção por parte dos ouvintes, com algumas contribuições muito significativas. O professor Gérson Munhoz dos Santos, por exemplo, que é professor universitário aposentado pela Unesp e foi membro do Conselho Estadual de Educação, questionou se não deveria ter sido feita uma experiência-piloto, com grupos pré-selecionados, antes que se adotasse o sistema de progressão continuada, em que o aluno é promovido de série mesmo sendo reprovado nos exames.
Admitiu-se que essa experiência-piloto teria sido conveniente, e ficou-se sabendo que o novo sistema foi introduzido com muito pouca explicação prévia às professoras que passariam a adotá-lo, e que elas jamais foram solicitadas a opinar sobre o que achavam dessa alteração, pois a decisão foi tomada de cima para baixo, sem possibilidade de discussão, muito menos de eventual contestação. Vale lembrar que, embora o sistema da progressão continuada tenha se tornado conhecido a partir do momento em que foi adotado em toda a rede pública estadual pelo ex-governador Mário Covas, sua introdução deveu-se ao renomado educador Paulo Freire, durante a gestão petista da prefeita Luiza Erundina em São Paulo. Soube-se também que o sistema vem sendo adotado na rede pública municipal de São José dos Campos desde 1996, antes de sua adoção na rede estadual. No geral, entretanto, as professoras admitem que o sistema é válido, na medida em que evita o mal maior que é a evasão escolar. Ou seja, é preferível manter na escola um aluno cuja aprendizagem pouco evolua, a ter que vê-lo abandoná-la devido a sucessivas reprovações, entregando-se à marginalidade das ruas.
Mas ficou claro, também, o inconformismo das professoras. Elas se queixam da constante alteração de métodos e programas baixados autoritariamente de cima para baixo, de tal forma que, segundo afirmaram, mal se pôde aferir o resultado de um e já se recebe ordem peremptória para que aquele seja abandonado para a adoção de outro. Mal remuneradas, as professoras têm que buscar emprego em diferentes escolas, públicas e privadas, restando pouco tempo para se dedicarem à reciclagem de conhecimento e ao próprio planejamento de suas aulas. Trabalham, principalmente na rede pública, com salas em que há sempre um número excessivo de estudantes, impossibilitando uma dedicação específica a alunos que apresentem dificuldade de aprendizagem. Citou-se o exemplo de uma escola estadual de São José onde há 350 alunos e uma única orientadora pedagógica, para os três períodos - manhã, tarde e noite. Se isso ocorre na segunda maior cidade do interior de São Paulo, imagine-se o que deve ocorrer no Norte e Nordeste do país.
A certa altura, mencionei os dados que acabavam de ser orgulhosamente divulgados pela Secretaria de Estado da Educação, com a presença do próprio governador Geraldo Alckmin, obtidos pelo Saresp - Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. Muito diferentes dos dados do SAEB, que incluíam as escolas paulistas, os do Saresp garantiam, por exemplo, que 53% dos alunos da 1ª série das escolas públicas do Estado de São Paulo já eram capazes de escrever "um texto coerente", percentual que aumentava para 75% entre os alunos da 2ª série. Questionadas, uma a uma, as quatro participantes do debate admitiram acreditar mais nos dados do SAEB que nos do Saresp, pois o que testemunham em seu dia-a-dia é aquela situação "crítica" ou "muito crítica" de alunos que, na 4ª série ainda mal sabem ler, escrever ou entender textos simples. Uma semana depois, o próprio Governo do Estado admitiu que os resultados do Saresp podem estar "maquiados", pois cometeu-se a ingenuidade de permitir que as mesmas professoras que aplicaram os testes lhes fizessem a correção. Quantas professoras, nesse caso, terão cuidado de arrumar os textos de seus alunos, para que elas próprias não ficassem suspeitas de ineficiência na prática do ensino?
Saí daquele debate com duas convicções. A primeira é de que há gente muito competente na área da Educação, impressão nítida que me deixaram as quatro convidadas do programa. A segunda é de que se faz necessária uma gestão menos centralizadora e menos autoritária por parte das autoridades da Educação, procurando discutir previamente com as professoras a adoção de novos programas, métodos e currículos, tanto quanto é necessário um esforço para reduzir o número de alunos por sala, pagar salários que não obriguem as profissionais a lecionar ininterruptamente de manhã à noite, e estabelecer sistemas de avaliação de desempenho das próprias professoras. Sim, porque elas também admitiram que há colegas que não têm a menor preocupação em se aperfeiçoar, que se colocam contra qualquer inovação e "embora sendo minoria, dão muito trabalho" - essa a exata expressão que ouvi."

Um comentário:

Anônimo disse...

"... é preciso ensinar antes de cobrar."

Ao ler este trecho agora de manhã, senti que alguma coisa me incomodou. Será que nós, que estamos na linha de frente, como vc mesma sempre diz e disse no texto, estamos fazendo a nossa parte de verdade? Ao trabalhar um conteúdo, ainda tenho medo de não passar ao aluno o que ele precisa realmente saber para dar a devolutiva que espero.
Ainda sinto aquele friozinho na barriga ao ensinar um conteúdo novo e não atender às expectativas, mais minhas do que deles, pois estão em uma situação em que se ensinarmos algo errado eles aceitam e nem sequer percebem.
Quero pensar mais sobre isso, mais um ano termina e é um momento de auto-avaliação, mais uma vez quero repensar minha prática e fazer novas escolhas, mudanças,...

Muito obrigada, adorei ler este artigo, pensarei nele durante boa parte do dia.

Um abraço,

Karine