(Jornal de Caçapava, 20 de maio de 2011)
A educação é um tema controverso, fascinante e trabalhoso desde o entendimento. Educar é, a priori, cultivar o espírito, instruir, ensinar, domesticar, adestrar. Analisando sem regras metodológicas nos leva ao entendimento do cercear a vontade e estabelecer limites. Para nossa contemporaneidade, a educação é uma ferramenta que nos possibilita a convivência social, nos permite buscar por novos elementos que nos completem e nos tornem próximos de um ideal de civilização, historicamente estabelecido pela formação ocidental, carregada de simbolismo religioso.
Sermos educados é sermos aquilo que é esperado de nós. ‘Ter berço’ já foi, no Brasil, sinônimo de ter educação esmerada, nome e sobrenome pomposo e ostentar refinamento.
A educação, assim entendida, pode ser percebida como algo longe da maior parcela da população. Uma educação formal e estabelecida sob regras da elite. Uma elite que queria se parecer com a elite europeia.
É prática, e lei, relativamente nova o acesso à escola de todas as camadas da população. Ainda hoje, é preciso convencer os pais a colocarem os filhos na escola e mais, observar para que eles permaneçam nela. A escola, detentora das regras da educação formal para a futura formação profissional e cidadã, precisa ser vinculada a uma infinidade de benefícios voltados à alimentação, transporte, necessidades básicas familiares para ser atrativa. Ela não atrai uma considerável parcela populacional e não deixa claro qual é seu papel.
Está na lei, mais ainda não no entendimento das famílias qual é o papel da escola. A educação pública também titubeia, ora caminhando para uma formação global, ora para uma formação técnico-profissional e ora tomando as rédeas do que é de pertencimento da responsabilidade familiar. A sociedade e os governantes não podem continuar empurrando para a escola as obrigações familiares. Educar para a vida, para a convivência social, para os valores e a ética só fazem parte da escola como continuidade. A essência é familiar.
Se as rotinas de trabalho são dificultadoras, se a fragilidade do núcleo familiar é dificultador, não é de responsabilidade da escola a tarefa de educar os filhos, sob a tutela escolar está a formação de cidadãos, em continuidade do que é feito no lar. As relações familiares precisam ser fortalecidas, o tempo e a divisão de tarefas entre homens e mulheres, pais e mães, precisam ser legítimas, dialogadas e fortalecidas, pois é a nós, pais e mães, que cabe a educação de nossos filhos. Delegar e empurrar nosso dever para empregados, babás e professores está sendo um desserviço à sociedade.
Planejamento familiar e educação dos filhos são temas a serem tratados e debatidos urgentemente e com seriedade. As escolas não são estruturas substitutas do lar. Não importa que os filhos (por quaisquer que sejam os motivos) passem a maior parte de seu tempo nela. A família não pode continuar se eximindo de sua responsabilidade. Filhos são eternos, pais e mães são mais que pessoas a serem comemoradas uma vez por ano por belas propagandas de famílias perfeitas.
A grande lição de casa de nossa geração é abraçar a oportunidade e direito do acesso a educação e agregar a experiência de vida, a formação familiar ao conhecimento e construir um presente de qualidade, exigir uma escola de verdade para famílias de verdade.
Sônia Gabriel
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