quarta-feira, 20 de julho de 2011

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Medos

 (Jornal de Caçapava, 08 de julho de 2011.)


Ouvi dizer que o medo nos permite viver. Não sei o quanto, mas que insiste em nos acompanhar pela vida, lá isso é mesmo. Parece que o medo, segundo a ciência, nos impede de colocar nossa vida em risco, nos impulsiona, por instinto de sobrevivência, a refletir e evitar atitudes extremas. O medo nasce conosco. Em nossos primeiros instantes de vida, temos medo da luz, dos barulhos, da dor e do ar que, a todo vapor, rasga nossas narinas e gargantas até nossos pulmões. E, sem esquecer os que nascem e já levam uma palmada, sem licença poética.
A partir daí, temos medo da fome, da ausência de nossos pais, dos novos seres que, se aproximam e se afastam a todo o momento. Vamos crescendo e continuamos experimentando medos. Sentimos medo de cair; temos que vencer o medo de andar; aprender a separar o medo dos estranhos do medo do escuro e das sombras, em que insistimos olhar na luz tênue; interpretar o medo do que existe e do que imaginamos existir. Criança ainda tem medo de chamar e demorar a resposta, medo do xixi e...
A adolescência chega e temos medo da diferença, medo de não ser do grupo, medo de gostar, medo que ninguém goste da gente, medo de que o pai e a mãe não nos e os aprovem, medo de que nossa família se ausente, medo do que o coração sonha e deseja e medo de não viver o que o coração sente e deseja.
A vida acontece, e, o medo de não conseguir ser o que sonhávamos para quando crescêssemos se transforma em medo de não conseguir um emprego, medo de perder o emprego, medo de que o outro não diga sim. Depois, vem o medo de acumularem as contas; medo de não ter os filhos, medo de não conseguir cuidar bem dos filhos, medo quando a febre é alta demais, medo quando eles não sabem dizer onde dói e, medo quando, podendo, eles não dizem onde dói. Medo por um mundo tão grande e eles tão pequenos, medo quando eles crescem e resolvem enfrentar o tamanho do mundo.
A vida caminha e os medos caminham ora na frente, ora atrás, ora querendo fazer companhia, lado a lado, com a gente. Até o derradeiro momento, o medo de saber se há e o que há depois.
Sendo assim, melhor aprender, a saber, quando respeitar, quando aceitar e quando desafiar tantos medos. E você, está com medo de quê, hoje?

Sônia Gabriel



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