Ruindade é uma coisa estranha, bizarra. Enreda seu praticante de tal maneira que ele perde a dimensão da realidade, com o tempo tende a se deformar até nas expressões faciais, tal qual está deformado o caráter. Tem mais, deve dar uma canseira! Estava massacrando o pensamento com tais considerações de tanto assistir personagens de forte inclinação para coisa ruim.
Fazia tempo que andava a prestar atenção nas ruindadezinhas cotidianas de alguns protagonistas. Estava cansada só de ver. De tanto assistir, achando que não era problema meu, pois quem bate palma para louco dançar, tem mais é que valsar junto, comecei a rascunhar uma lista de maldades. Coisa rápida, que não tomava mais que dois segundos. Via a flechada, rabiscava, ia uma lambada, outro rabisco.
Credo! Nesta semana, faxina na agenda e achei as anotações food e parei para pensar um bocadinho na inusitada função de ter certeza que o outro está sofrendo. Como é importante para algumas pessoas que o outro sofra. Tem gente que só consegue ser amigo de quem está padecendo, só consegue compartilhar da dor, sente-se importante por achar que sofre menos, o menos do outro alimenta ser um tantinho mais seu menos não considerado.
É muito intrigante como alguns amigos diante de momentos de alegria, de sucesso, de realização do outro, desaparecem. E vem aquela máxima, quase franciscana, de que “agora você já não precisa de mim, preciso cuidar de outros que necessitam”. É no mínimo estranho. Qual a dificuldade de compartilhar também da alegria?
Alimentar o sofrimento alheio é de profunda crueldade. Instigar para que o outro sofra apenas mais alguns dias só para se ter utilidade de existência é patológico. Não preciso de especialização em psicologia para saber disso. A valorização do sofrimento como forma de autoconhecimento foi a mais recente que ouvi. Não há dúvidas de que aprendemos muito com as dificuldades, tanto quanto com as vitórias e alegrias, aliás, nossa existência neste mundo pauta pela aprendizagem. Creio. Não poderíamos vivenciar tanto se não fosse para aprender, para crescer, para ir ao encontro da sabedoria. De que valeria tanto estudo, tanta busca, tanta vivência se fosse apenas e exclusivamente para esperar a morte chegar? A grande lição é a própria vida.
A vida nos observa tomar direções, escolher, acertar, errar, vencer, perder, sorrir e chorar. Nós construímos e de nossa construção interferimos diretamente nas construções alheias, o contrário também é fato. Convivemos. Nossas ações não são impunes, elas pesam tanto quanto notamos pesar a de nossos semelhantes. Ainda acredito, como acreditava antes dos vinte anos, e cheguei a escrever em caderninho de moça que o que se leva de aprendizado da nossa existência não é a quantidade de obras magníficas que podemos, em todos os sentidos e imaginação, edificar, mas a menor quantidade possível de mal que podemos gerar, incentivar, compactuar. Essa pode ser a melhor de nossas ações, ser útil é simples. Tentar ser bom dá menos trabalho, se pensarmos pela lei do menor esforço – quando nenhuma outra consideração atender nosso ego.
É verdade, observe, veja como deve dar trabalho ser negativo, fazer maldades, mentir... Eu me canso só de imaginar. Ter que pensar em desculpas, tentar não esquecer a mentirada que já pronunciou, ficar fazendo esforço para que o alvo da mentira um não tenha contato como o alvo da mentira dois e assim, não cruzem informações. Ainda viver considerando a possibilidade de ser desmascarado... Ufa! Não disse, já estamos todos exaustos só de pensar! Por que perder tempo fazendo, então?
Boas ações para todos nós! Nada de extraordinário, nada de maravilhoso, nada de melhor que todo mundo, nada de ninguém fez antes e nem poderá fazer melhor; apenas possíveis, singelas, discretas e reais boas ações para todos nós. As que nos fizerem bem e se boas aos outros também, melhor para todos.
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