terça-feira, 28 de agosto de 2012

Uma história de Zenilda Lua


Ixe, está cada vez mais animado...


"Minha participação estórica. ( de estórias mesmo!) bj'Z
Na frente de um palácio de certo rei, havia um morro que lhe estragava o prazer. Esse rei, apesar de ser vesgo, tinha uma grande vontade de "dominar a paisagem"; vontade tão grande, que ele não resistiu, e num belo dia resolveu secretamente acabar com o morro. Tratava-se, porém de um morro sagrado, chamado o morro da Democracia, e defendido pelas leis básicas do reino. Nem essas leis, nem o povo jamais consentiriam sua demolição, porque era justamente o obstáculo que limitava o poder do rei.
Sem ele o rei dominaria ditatorialmente a paisagem, o que todos tinham como um grande mal.
Mas aquele rei, que além de vesgo era malandro, tanto espremeu os miolos que teve uma ideia. Piscou e chamou uns cavouqueiros, aos quais disse:
-Tirem-me um pouco de terra desse morro, ali onde há uma touceira de planta espinhosa. Se o povo protestar, direi que é para destruir os espinhos, e que se tirei um pouco da terra foi para que não ficasse no chão nem uma raiz ou sementes.
Os cavouqueiros arrancaram a planta e removeram várias caçambas de terra. O povo não protestou, não achou que isso fosse um caso importante. Só algumas ranzinzas murmuraram, mas logo os apaziguadores responderam: " Foi muito pequena a quantidade de terra tirada, não fará falta nenhuma".
Vendo que não houve protesto, o rei logo depois, deu nova ordem aos cavouqueiros para que arrancassem outro pé de qualquer planta, mas com terra - ele fazia muita questão de que a planta condenada saísse sempre com muita terra... Continuando o povo a não protestar, prosseguiu o rei por muito tempo naquela política de "extirpação das plantas do morro" e as foi arrancando sempre, "com bastante terra", até que um dia...
- Cadê o morro?
Já não havia morro nenhum no reino. Desaparecera o Morro da Democracia, e o rei conseguiu afinal estender o seu olho vesgo por toda parte e governá-lo despoticamente - não pelo breve espaço de apenas oito anos, mas por dezesseis e tantos outros que se possa contar.

Extraído da oitava edição do livro urupês de Monteiro Lobato ano 1956."


Nenhum comentário: