quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Tempo de Férias.



(Jornal de Caçapava, 05 de julho de 2013.)

    Começaram os dias em que o frio já não me incomoda, férias. Hoje, levantei cedo para fazer uma mamadeira e enquanto subia a escada, fui tomada daquele sentimento materno de ouvir os ruídos da casa. Mãe tem disso. A casa parece se comunicar intensamente conosco, inclusive no silêncio. Muito perspicaz em ouvir-se em tal silêncio, foi a poeta Dyrce Araújo com o seu emocionante livro “Quando a casa dorme”. Ali, pertinho da escada, ouvi o ronronar de meu filho. Adolescentes dormem com o corpo largado na cama, edredom que se vire para cumprir seu papel. Aproximei-me da porta e me comovi ao vê-lo tão crescido, meu menino ficou pelo caminho, de vez em quando o vejo num deslize infantil de quem já se acha rapaz, olho para ele sentida de saudade de meu menininho e ele me sorri caridoso, mas tudo o mais que tem para viver vence, claro. Que assim seja!

    Com a mamadeira querendo esfriar, caminhei pelo corredor, fechei a porta do banheiro, passei pelo quarto da pequenina (ela não está lá, óbvio), apaguei a luz e fui para meu quarto. Cama enorme tomada pela criatura de pijaminha, cabelos armados e lindamente desgrenhados, estica a mãozinha e pede a mamadeira, sorve o alimento enquanto acaricia a minha orelha e me olha com aquele pedido implícito de cuida de mim, eu sou pequenina, ainda sou da mamãe (ao menos é o que quero entender) e me realizo. O animal materno alojado em mim se realiza. Ainda estão todos aqui sob a proteção do lar, ainda me chamam, ainda sou a mamãe.

    Nesta manhã fria, onde o frio não me incomoda, manhã de férias escolares, meus filhos reforçam o que já sei e prezo tanto: cheiro de casa, cheiro de manhã com chuva, cheiro de café, leite e pão com manteiga. Cheiros simples que me comovem, que alimentarão as manhãs em que eles já estarão distantes, vivendo suas aventuras planejadas desde hoje, no tapete da sala, enquanto o pai e eu cuidamos de tudo. Eles brincam, crescem, estudam, são felizes, sofrem apenas por bobagens e brigam apenas conosco.  Bom dia para todos vocês...


Sônia Gabriel

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