(Publicado no jornal Zona Sul Agora em agosto de 2000)
Uma nota a nós mulheres “comuns”...
Quando, quase por um milagre, nos sentamos para ver televisão, escutar rádio, ler uma revista, um jornal (afinal entra século, milênio e alcancemos vitórias, ainda acumulamos funções), nos deparamos com um bombardeio de propagandas que se propõem a nos ajudar a sermos as mulheres ideais: são cremes, para aumentar ou diminuir, levantar, tingir, enrijecer, amaciar. Cintas, aparelhos, pílulas, sucos miraculosos, enfim uma parafernália que nos permitem não aceitar quem realmente somos.
Onde está a mulher comum? Não pejorativamente. A pessoa, simplesmente. O ser.
A mídia e o mercado dos produtos miraculosos nos dividiram em opostos específicos: gordas e magras (leia-se magérrimas, beirando a deformação), altas e baixas, velhas ou novas, lindíssimas ou feias, capas de revistas e as outras.
Lembro-me da indignação com que fiquei há alguns anos quando, assistindo um programa matinal, uma famosa especialista em moda e etiqueta afirmou que as mulheres magras são melhores cabides. Cabide?
A maturidade nos traz grandes benefícios. Ninguém em sã consciência vai fazer apologia à obesidade. Gordura não é saudável e isto é de consenso social, mas daí a sair fazendo qualquer coisa para encaixar-se num padrão de senso duvidoso há uma justificável distância.
Somos mulheres. Estudamos, trabalhamos, amamos, casamos, geramos filhos e idéias, pensamos. Pensamos! O conhecimento é a nossa maior ferramenta, não nossa maior arma. Autoconhecimento.
A vida e a natureza não são estáticas, nós não somos. O tempo passa e a beleza reside aí, na possibilidade da mudança.
Ter vaidade e saúde é importante em todas as fases da vida, mas assistir meninas de dezesseis anos angustiadas porque querem colocar silicone e fazer lipoaspiração é um pouco demais, não?
Somos mulheres, não somos cabides. Nós não temos que nos preocupar em ficar bem na roupa, a roupa é que tem que ficar muito bem em nós. Somos mulheres. E mulheres, até onde eu ainda sei, têm seios, bunda, quadris, curvas...
É da nossa natureza, são nossos atributos para a sedução, para o sexo, para a vida. Não somos pouca coisa. Não somos clientes em potencial para um mercado imoral.
Se estereotipar, perdendo a consciência de quem somos, e, em qual fase da vida vivemos é um crime que cometemos conosco mesmas e é tão perverso quanto o machismo que nos é imposto.
Tenhamos 15, 20, 30, 50..., no corpo e na alma, isto é consciência de si; cada fase da vida tem seus encantos e quem respeita sua natureza e a conserva com vaidade crítica e saúde permanece bela e feliz em todas as maravilhosas etapas de sua vida.
Pense nisso.
Se o dia Internacional da Mulher já foi confiscado pela mídia e pelo mercado, se está se tornando mais um dia para ganhar lembrancinhas e flores na fila do banco, na porta do supermercado (aliás, muito apropriado), nós ainda precisamos refletir muito sobre nossa condição de mulheres.
Este ano, sugiro esta reflexão.
Sônia Gabriel
Um comentário:
Bom dia!
Amei esta crônica. Agora é uma de minhas preferidas, depois da "Mulher que engana a Deus".
Beijos e um ótimo dia!
Ká
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