sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Muito obrigada!




(Jornal de Caçapava, 22 a 28 de janeiro de 2010)


Muito obrigada!
Este foi um ano muito especial. Começou com uma sombra que perseguia minha esperança de que tudo ficasse bem. Iniciei-o aguardando minha filha chegar. Os dias foram passando e minha esperança cada vez maior contrastando com a sombra de meus medos.
Os meses passaram e na Sexta-feira Santa, emoldurada pela lua mais bonita que já vi na minha vida, Bárbara resolveu me surpreender mais uma vez: decidiu chegar antes da hora. Na madrugada, a bolsa estourou e o líquido que de mim saia avisava que não havia mais nada que eu pudesse fazer. Dali por diante, tudo estaria a cargo de outrem. Minha vida em nada dependia de mim, minha expectativa nada mais podia sobre os fatos.
Durante todo o caminho até o hospital fui pensando em minha mãe. Ela me deu a luz aos dezenove anos, em casa e com o auxílio de parteira e da família, me senti frágil por precisar de muito mais que isso para o que deveria ser simplesmente parir.
Quanto tem nos separado da natureza, como a tememos!
A dor que eu não sentia começou a me fazer entender que desta vez seria diferente. Temi por uma cirurgia, sempre tive receio de cirurgias, nunca tinha entrado em um centro cirúrgico. Comecei a verificar o quanto a ausência de dor estava me apavorando, quanta ironia, nós que sempre nos anestesiamos por não suportar a menor dor que seja.
Comecei a me distanciar do entorno. Silenciei e prestava atenção apenas nos movimentos de minha filha que começavam a diminuir. Escutava o que um e outro falava, sentia a aflição e preocupação de meu marido e pensava no que minha filha esperava de mim naquele momento.
Eu observava me carregarem, via as mulheres entrando angustiadas e outras saindo com um sorriso cansado do centro cirúrgico e pedia sem cessar: deixe-a comigo, ela é meu aprendizado.
Nesta hora de nada me valia tudo e nada, éramos eu e ela. Cercada de atenção e competência, só pensava em nós duas. Temia tudo e esperava tudo. Sentindo todo o peso do mundo, sorri para a fotografia que ela verá um dia, verá que a felicidade não me abandonou.
Quando escutei o médico chamar o pai para vê-la ser retirada de mim, meu coração expandiu-se a ponto de eu não saber se o suportaria manter no peito. Os sorrisos alheios, os olhos voltados para onde eu não podia ver; a impotência de não poder me mexer, correr e tomá-la (o que era de meu direito), tudo ao mesmo tempo e tão intenso me fez suar.
Trouxeram-na para perto de meu rosto, encostaram sua pele na minha e eu chorei. Chorei por todos aqueles meses com medo de perdê-la. Chorei pela solidão que nos unia na luta por uma vida que preenchia meu ventre. Chorei pelas tardes em que sonhava todas as aventuras que ainda viveríamos. Pelas histórias que lhe contaria.
Os olhos nublados não me impediram de ver o corpo escurecido de quem estava quase sem ar (o cordão envolvera seu pescoço). A natureza, sábia, apiedou-se de mim e antecipou seu curso.
Bárbara nasceu miúda, com aparência frágil, podia lhe segurar com apenas uma mão. De tão pequena passou a ser a nossa Babi.
Foram duas semanas no hospital, ela tinha dificuldade para ganhar peso, mas aos poucos foi demonstrando ser uma fortaleza: não ficou no berçário, estava o tempo todo comigo, me possibilitou a mágica experiência de amamentar, olhava com força para dentro de meus olhos, me enfeitiçando num jogo de amor e cuidado eternos.
Estava eu completamente apaixonada por ela.
O tempo foi passando, eu me fortalecendo novamente, a maternidade tão latente em minha alma tomando novo fôlego. A casa com mais um perfume, mais um som, mais uma energia e o universo muito mais vivo.
Bárbara faz parte de meu aprendizado, ela tem me imposto a cada dia uma nova alegria. Saudável, alegre, esperta, tão branca quando perto de mim, está sempre acariciando meu rosto, me lembrando que sou mais forte do que poderia sequer imaginar. É o retrato explícito de meu amor de mulher, a celebração da esperança de nossa família.
Suas mãozinhas tentando teclar comigo, seu corpo pendurado no meu enquanto suga meus seios e acompanha as palavras nascendo na tela me faz todos os dias, repetir do fundo da minha alma: muito obrigada!

7 comentários:

Anônimo disse...

Oi Sonia!

Que depoimento lindo! Deus abençõe mãe e filha. Suas emoções provocaram um desejo muito grande de ninar minha filha que hoje tem 27 anos e continua sendo, para mim, a pequenina Fê.

Abraços,

Conceição Molinaro.

Anônimo disse...

Sônia
Como ela está grande!!!!!!! E linda!!!!!!!
Parece que foi ontem que li sua crônica sobre a Bárbara....
Parabéns!!! Saúde e alegrias...sempre

Mônica

Anônimo disse...

Que lindo !!!!!
A sua filha está linda
parabéns
beijos
Dicéia

Anônimo disse...

Muito boa mesmo...parabéns.

Milton

Anônimo disse...

Olá, Sônia



que lindo! fiquei muito emocionada, em ler sua crônica, você sabe que tenho dois filhos homens adultos e sou a mãe mais coruja e orgulhosa do mundo, e nesse percurso da minha caminha de mãe tive duas meninas, que amei e amo muito,mas Deus me deu só a alegria de parir , não criar,que são hoje dois anginhos no céu, vou te contar um segredo lembra quando você estava gravida e eu me preocupava com vocês, eu pedia a Deus todos os dias por vocês, fico imensamente feliz que ele me ouviu e também agradeço por isso.


Que Deus abençoe sempre à sua linda família!


beijos



Rose

Anônimo disse...

parabéns sonia gabriel pela cronica
desta semana.
beijos carinhosos
Berenisse

Anônimo disse...

Sônia, como você é iluminada para escrever suas crônicas. Admiro sua capacidade de expressar seus sentimentos com tanta facilidade, principalmente com relação ao nascimento de sua filhinha. Você consegue emocionar a todos.
Parabéns, Bjs.......................
Ordália