(Jornal de Caçapava,05 a 11 de fevereiro de 2010)
Supõe a antropologia que depois de, provavelmente, por observação direta e uma questão de sobrevivência, as mulheres teriam domesticado a natureza, e assim o homo sapiens teria se tornado sedentário; uma vez que passavam mais tempo num mesmo lugar se oportunizou o surgimento dos rudimentos do que entendemos hoje como família.
Daí imagina-se que foi preciso parar.
A invenção do casamento é bem posterior, o casamento cristão ocidental tal qual conhecemos teve suas origens na Idade Média e vem passando por transformações desde então.
Mas o que me levou a este assunto? Um artigo de uma revista especializada em História que acabo de ler. O tema me fez pensar em outra consequência das uniões: os filhos.
O conceito certinho e fechado do que é uma família já não existe mais, mas os filhos não deixam de existir. O que fazer com eles? Depois de milênios absorvendo que uma família se constitui de pai, mãe e filhos, vivendo e convivendo numa mesma casa, onde cada membro tinha muito claro qual era o seu papel... Ora, mas será que era assim mesmo? Não é bem assim.
Na literatura podemos encontrar relatos de que reis e rainhas dificilmente educavam seus próprios filhos, entregues a preceptores. Alguns pais da nobreza chegavam a passar anos sem ver os filhos, viajavam muito para administrar suas terras e bens e os mesmos ficavam a cargo de seus servos e administradores. Quanto as famílias mais pobres, muitas vezes ter filhos era a possibilidade de mão-de-obra futura.
No Brasil não foi muito diferente. Quantas escravas não amamentaram os filhos de suas senhoras e eram responsabilizadas pelos cuidados com as crianças passando com elas muito mais tempo, durante sua infância, do que suas próprias mães.
A primeira vez que me deparei com o fato de que a maternidade e a paternidade tal qual idealizamos é extremamente recente me assustei. Não que os filhos de outros séculos não fossem amados, desejados. O contexto é que era outro.
Na verdade engatinhamos no assunto, talvez daí resultem os conflitos.
Filho não vem com bula e família não tem receita.
O casamento pode até ter sido inventado, mas a família me parece ser uma necessidade natural do homem. A busca pelo aconchego, pela segurança, pelo conforto do coração e da alma, pela vontade do cuidar e ser cuidado.
Se durante alguns séculos, a questão era aparentemente muito bem resolvida, não é mais assim: há casais que não se obrigam mais a viverem juntos por conveniência, casais que vivem sob o mesmo teto, mas não querem ser um casal, casais que não precisam da burocracia para ser um casal, casais do mesmo sexo... O casamento está sendo reinventado, mas e a família?
E os filhos? Como reinventá-los?
As necessidades individuais de homens e mulheres levaram a sociedade a rever seus conceitos, “desconstruir” alguns, reinterpretar outros, mas e os filhos?
A própria indagação demonstra a inquietude do momento histórico que vivemos. Não está tudo certinho, resolvido, a resposta não é clara e não vão nos dar pronta. Teremos que construir nossa própria verdade, a verdade de nosso tempo. Amamos nossos filhos, queremos cuidar, educar, queremos aprender (haja vista a quantidade de livros especializados e consultórios lotados), queremos tanto que buscamos soluções mágicas que muitas vezes não dependam de tempo, renúncias, prioridades, desfazer-se de íntimas vaidades.
Lamento informar que essas soluções ainda não foram inventadas.
E muito menos eu tenho uma receita, só a mesma vontade que você de acertar. E se você acha que perdeu seu tempo de fazer comigo essas considerações e não encontrar a fórmula no final só posso lhe dizer que está começando mal.
Um comentário:
Ola, what's up amigos? :)
Hope to get any assistance from you if I will have some quesitons.
Thanks and good luck everyone! ;)
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