Essas linhas são sobre pessoas. Prima matéria essencial para o globo. Imperfeitos sim, mas parte do eco. Pessoas são, enquanto tudo o que produzem, apenas estão. Estou num processo de desapego. Revendo conceitos ligados ao concreto. Nada de hipocrisia, de apologia ao nada. Aconchego e conforto sempre fizeram bem e eu não considero pecado fazer-lhes uso. Revejo a real importância de utilizar meu tempo de existência aos seus cuidados.
Estou tentando ser menos apegada a objetos, matéria simplesmente, por mais importantes que sejam. Não quero ver-me rodeada apenas do que as mãos construíram, mas aproveitar melhor meu tempo com gente. Tenho minhas preciosidades, carregadas de lembranças, memórias de tempos felizes ou nem tanto; cortinas que velam a transparência e os sentidos se encarregam de tornar viáveis ao nosso frágil entendimento de viver. Mas estou aprendendo a não lhes dar maior importância do que merecem. Tenho experimentado. Não que seja simples. Nosso senso de colecionador é forte, impregnado, presunçoso, mas estou sinceramente praticando, interiorizando este conceito. Não quero que nada tenha mais importância do que pessoas em minha vida. Minha veia arquivista tem que sucumbir ao meu vital modo de ser. Talvez seja apenas um regressar ao que já fui.
Nosso trabalho, a maneira como resolvemos sobreviver, tem muito a ver com nossa natureza diante da vida, e acabamos, com o tempo, incorporando características profissionais em nossa existência pessoal. Sinto que preciso adotar alguns cuidados. Não sou apenas professora e pesquisadora, sou uma pessoa. Sou filha, mãe, esposa, cunhada, irmã, prima, sobrinha, tia, sou pessoa minha. Ser proprietária é pouco diante da lista efetiva de uma vida. Somos tanto para tantos e por descuido, não aproveitamos nosso tempo para com.
Tenho feito faxinas que nem poderia imaginar a algum tempo. Nada guardado sem uso. Mais espaço, mais ar para arejar pulmões e espírito. Sempre gostei de espaço, de portas e janelas escancaradas, mesmo no inverno. A claridade ininterruptamente me seduz e sua irmã, a transparência, me conduz. Qualidade e perdição de meu ser.
Desde que estas faxinas se instalaram como hábito, elas têm se alastrado, presentemente invadem minhas ideias, lembranças. Tenho selecionado o que vale permanecer, o que se faz saudável para meu viver, o que irradia felicidade aos que compartilham comigo. A tristeza não me é atraente, não faz parte de mim, tanto que sempre se rendeu, mesmo quando insistia em permanecer.
Arejado o ambiente, as ideias proliferam, o espírito se fortalece, nosso ÍNTIMO se evidencia e, claro, temos que estar prontos para recebê-lo com verdade.
Então, vassoura, rodo, panos, água, água, água...
Sônia Gabriel
3 comentários:
è isso aí, minha linda! E o melhor é que funciona...Quando a gente se arruma por fora, as coisas também vão entrando nos eixos lá do lado de dentro! Beijos!
Sônia
Cada vez te admiro mais ...crônica lida na hora certa!!!!!!!!!!!!!!!!!
Obrigada por fazer parte da minha vida!!!!!
Beijos
Ana
Oi, Sonia.
Obrigada pelo presente. Uma bela lição de vida. Parabéns!
Conceição.
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