quinta-feira, 28 de abril de 2011

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: A Banda.

 ( Jornal de Caçapava, 20 de abril de 2011.)



Toda menina é uma princesa, eu amava as bruxas e feiticeiras, eram muito mais charmosas e espertas, não entendia porque as princesas não podiam também encantar.  Passar a vida só desencantando deveria ser uma chatice. Amei a Moura Torta e tive pena. Por que não podiam amá-la, mesmo sendo feia? Amei a Iara, como não amá-la tão bela?  Maluquices da menina que fui.  Toda menina quer ser seguida por um séquito de súditos e eu queria seguir a Banda. Assim mesmo, não as bandas, a Banda, substantivo próprio. A Banda é uma personagem de grandeza nas histórias que eu assistia do morro distante. Ela nunca passou na minha rua, nunca parou diante de minha casa. Eu tinha que segui-la, se a quisesse. Eu cantava a música, feita para a Banda, de cor.
Neste domingo derradeiro, quando vi a Banda entrando no jardim, se colocando no gramado tão delicado e diante do rio Paraíba do Sul, tocar... Não vi mais ninguém. Todos foram sumindo... Eu me vi, lá perto da roda gigante, miúda, de cabelos compridos e olhos arregalados. Vi-me menina de oito anos, com vestidinho de alcinhas que minha avó fazia. Notei-me encabulada só um pouquinho. Vim andando em minha direção, juntava as mãozinhas e batia palmas enquanto o maestro dançava os braços pelos ares. Senti o que ela pensava. A Banda, naquele momento, era só nossa. Estava tocando só para nós duas.
Eu fiquei ali, olhando para mim, me admirando menina tão faceira, tão sonhadora, tão pobre e cheia de esperanças.  A menina também não tirou os olhos de mim, sorriu e me disse: “Não falei que um dia a gente voava?”.
Balancei positivamente a cabeça, pisquei para ela, enquanto uma lágrima rolou de meu olho depois do movimento. Ela saiu dançando ao som da Banda, eu voltei aos meus.
Nós duas estamos muito felizes.
Paz e bem!
Sônia Gabriel

A Banda de Santana tocou no lançamento da segunda edição ampliada do livro Mistérios do Vale...

2 comentários:

Anônimo disse...

Sônia,
Como podemos explicar uma sintonia tão fina com momentos tão delicados!
A-do-ro Banda...
Meu pai toca trombone numa bem singular... do interior de Minas...
Quando li sua crônica "Uma mulher na janela" assim que cheguei ao Vale do Paraíba, não sabia quem era Sônia Gabriel, autora da crônica, mas percebi que era alguém especial e que um dia escreveria muito mais para mim...
Estava certa.
Obrigada pelos momentos tão especiais e singulares que você me proporciona!
Beijão!
Amparo.

Anônimo disse...

Querida Sõnia
Que lindo menina !
C0m0 deve ser maravilhoso saber externar os sentimentos.
Desnudar a alma e ofertá-la generosamente aos leitores.
Talvez seja por isso que amo tanto os escritores ,cronistas, jornalistas ,poetas ,....etc .....
Agora, ter uma amiga escritora ,é para poucos.
É uma honra ser sua amiga.
Senti muito não ter estado com vocês.Com certeza teria adorado cada minuto.
Seja feliz!

Beijos e fique com DEUS.

Berenisse