terça-feira, 16 de novembro de 2010

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Café com brevidade, receita de hospitalidade.

 (Jornal de Caçapava, 29 de outubro a 04 de novembro de 2010)


Ser cordial e hospitaleiro é típico do brasileiro. Depois de viajar por considerável parte deste país posso afirmar que a generosidade de receber nos pertence culturalmente. Anotações e crônicas de viajantes que passaram por estas terras nos séculos de colônia e império relatam sobre as recepções sempre atenciosas e fartas que lhes ofereciam. Acolhimento e boa educação que permite ao visitante não se sentir demais. Servir bem é uma delicadeza que só os de alma gentil e elevada são capazes.


Não há casa aonde se vá, no Brasil, que não seja oferecido um cafezinho. Café, aliás, é uma bebida que aprecio muito e que nunca aprendi a fazer corretamente. Cada um tem uma receita, mas poucos o preparam de modo a termos o sabor na lembrança. O ideal nem forte, nem fraco é o mais difícil de fazer.


E sobre a arte de receber, minha mãe conta que um fazendeiro muito respeitado em sua região sempre recebia visitas e fazia questão que a esposa, afamada quituteira, preparasse mesas vistosas e generosas para que as visitas comessem e saíssem comentando da fartura e etiqueta que em sua casa imperavam e até levassem consigo um farnel. Toda vez que o homem apontava na curva da estrada, gritava para os funcionários da porteira que avisassem sua esposa pois, estava chegando visita. Os empregados corriam para a porta da cozinha e as cozinheiras já se dispunham para a senhora no preparo dos quitutes.


A casa então se preenchia de perfumes doces, salgados, cítricos e agridoces. Frutas transformavam-se em geleias e compotas. Bolos se agigantavam nos fornos. Pudins, queijadinhas e biscoitos recheavam as mesas postas com toalhas brancas e engomadas.


Quando o fazendeiro chegava à porta da sala, apeava de seu cavalo e subia as escadas com a visita, a governanta já estava na entrada com a lavanda e toalha para que lavassem as mãos e servissem-se à mesa.


Certo dia, o fazendeiro resolvendo algumas questões de terra, mandou chamar o pároco local para servir de testemunha. O padre então passou toda a manhã e tarde na companhia do homem, andando pelas terras e tinha pressa para retornar a cidade e realizar sua missa da noite. Agradecido pela atenção do religioso, o fazendeiro se dispôs a levá-lo até a cidade, mas não sem antes tomar um café. Sabendo do costume da casa com os lanches o padre reforçou que tinha pressa, mas o fazendeiro insistiu por apenas um cafezinho. Chamou a esposa e pediu-lhe que providenciasse um café com brevidade, pensando em apressá-la.


A mulher dirigiu-se para cozinha e os homens iniciaram uma prosa enquanto aguardavam. A prosa alongou-se e nada do café chegar. O padre foi se impacientando e o fazendeiro chamou pela esposa que não apareceu. O homem resolveu ir até a cozinha averiguar a demora do café e o padre acompanhou-o. Chegando ao templo dos temperos e tachos, a cozinha, lá estava a mulher acomodando o coador no mancebo para passar o café, a água fervia ansiosa, enquanto as cozinheiras aguardavam esfriar uma fornada de brevidade que tinha amassado e acabava de despedir-se o forno.


Receita de brevidade


Reserve seis ovos, quatrocentos gramas de açúcar, quinhentos gramas de polvilho doce e uma pitada de sal. Separe as claras e bata em neve, coloque as gemas e bata novamente. O segredo é bater bastante, quanto mais bater mais fofinha e perfumada a brevidade vai ficar. Acrescente o açúcar aos poucos, batendo sempre, coloque a pitada de sal e o polvilho. Sove com vigor. Coloque a massa pronta em forminhas de alumínio ou de papel e leve para assar em forno já aquecido e brando por aproximadamente 10 a 15 minutos. Observe para não queimar.


Sônia Gabriel

2 comentários:

Anônimo disse...

Sônia

Adorei a história, minha mãe sempre faz brevidade em casa,
com ovos e água, segundo ela; fica muuuito gostoso e leve!
Fábio

Anônimo disse...

Sonia adorei a receita obrigada bjs Beth