(Jornal de Caçapava, 12 de agosto de 2011.)
Mais significativa que a arte de bem falar, é a de bem ouvir.
Escutar o próximo demanda generosidade, compaixão, respeito, humildade e amor. Estamos perdendo essa competência tão especial. Numa sala de reuniões com mais de vinte pessoas, todos gritam. Começam falando, conforme outros vão chegando, cada um vai falando mais alto, e quando conseguimos, por instantes, nos distanciar da cena, é possível observar as expressões de angústia em se fazer ouvir a qualquer berro.
Andei fazendo o exercício proposital de escutar menos e falar mais. Bati papo, coisas sem importância, bobagens que não acrescentam em nada. Minha popularidade melhorou no trabalho e na rua. Quando voltei mais a mim, quando quis falar de assuntos de nosso cotidiano real, quando quis falar de música, de livros, de filhos, de família, de verdade, os ouvintes foram rareando, regressando aos de sempre.
Claro que leveza é bom, assuntos amenos, risadas (rir ainda é o melhor dos remédios), brincadeiras, tudo acrescenta para nossa alegria. Mas só conseguir ouvintes para maledicências, fofocas, para palavras caídas no vazio é muito triste.
Tenho participado de alguns encontros onde muito debatemos a importância de ouvir. Ocorre sempre um breve silêncio. Mas, em segundos, a agitação não permite uma reflexão mais profunda. Não queremos. Refletir sobre escutar quando a ânsia é de falar? Improdutivo. Apenas, não podemos desistir. Precisamos educar nossos filhos, alunos, amigos, parentes, nos educar a escutar. Adquirir a sabedoria de selecionar o que vale a pena e o tinteiro escutar.
Amadeu de Queiroz (na década de 1930) nos ensina, retirando da sabedoria popular, que “É bom saber calar até chegar o tempo de falar.” Aprendi, creio e exercito isso.
Sônia Gabriel
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