terça-feira, 2 de agosto de 2011

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Contradições.

 (Jornal de Caçapava, 22 de julho de 2011.)


Ler jornais e assistir televisão tem sido um tormento nos últimos
meses. Temos um tempo reduzido para dedicar ao aparelho hipnotizador,
devido à diversidade de possibilidades de entretenimento que podemos escolher. Nas cidades maiores, a oferta de espaços e atrações é
animadora, mesmo assim, ela, a televisão, reina absoluta na maioria dos lares, dizem as pesquisas. O que me intriga é isso. Não o aparelho, nem a mídia, muito menos quem vive dela. Intriga-me que a população, diante de tantas informações, não consegue construir uma opinião mais profunda que córrego em meses de inverno. Mea culpa da Educação. A comunicação faz seu papel, comunica, mas quem recebe a
informação não tem feito bom proveito.
Além de assassinatos, assaltos, violência no trânsito, corrupção...,tenho me angustiado com a imensa quantidade de notícias sobre crianças sendo jogadas (literalmente) fora. Está se tornando, como se dizia antigamente, café-com-leite tais notícias; muitos pequeninos são jogados ora numa lixeira, ora num rio, por cima de um muro, em sacos de lixo, em portas de cemitérios. Notem: não é abandono como ouvíamos dizer: roda dos expostos, numa cestinha ou caixa de papelão onde ficavam embrulhados em humildes, mas limpos paninhos, colocados com
cuidado nas portas de famílias que pudessem acolhê-los; nada
romântico, nada de mães desamparadas que escrevem bilhetes implorando que os filhos sejam amados e cuidados, que tentarão voltar um dia para recuperá-los.

Esqueçam os filmes, novelas e romances literários. São crianças jogadas para morrerem. Ninguém joga um filho, ainda com cordão umbilical, em um saco de lixo, pensando em lhe dar uma chance.
É tentativa de assassinato. São mulheres que acabaram de parir, e
conseguem pensar, mesmo sob a emoção do parto, como se livrarem do problema. E não são apenas prostitutas, adolescentes, são mulheres de variadas idades e condições sociais.
A liberdade sexual foi uma conquista, mas a responsabilidade parece brinquedo de criança, se usa quando quer, descarta se não considerada relevante. Novelas e programas de televisão tão assistidos informam sempre sobre prevenção às doenças e gravidez indesejada, são realizadas campanhas, postos de saúde distribuem remédios, o que acontece então?
Na história sempre aconteceram essas situações, elas não são mácula apenas de nosso tempo, mas poderiam ainda estar ocorrendo diante de nossa dita evolução comportamental?
Temos muito para pensar, muito...

Sônia Gabriel

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