A Menina dos olhos amarelos
(Nosso Jornal, Outubro de 2003)
Aquela manhã foi a mais especial de todas as manhãs da escola. Quando dona Marlene anunciou que uma nova aluna começaria em nossa turma, ninguém poderia imaginar como ela era diferente. Todos na sala ficaram de olhos arregalados e queixos caídos, quase não dava para acreditar, quase não dava para fechar a boca. Ela era como todos os outros: o mesmo tamanho, a mesma idade. Sua pele era morena e os cabelos bem pretos, mas os olhos, bem ... Eles eram amarelos! Como poderia ser? Olhos amarelos? Você já viu alguém com os olhos amarelos?
Pois é. Naquela turma da terceira série, naquela escola municipal, em Jacareí, em 1979, eu conheci uma menina de olhos amarelos. Ela se chamava Margarida, vinha de outra cidade com seu pai e sua mãe; estavam de mudança para um novo emprego, uma nova vida, como ela dizia.
Durante a aula, foi difícil algum aluno prestar atenção em qualquer coisa que a professora dissesse; até mesmo ela, a professora, parecia estar intrigada.
Enfim, veio o recreio. Eu pensava como deveria ser difícil ter os olhos amarelos! Todo mundo olhando pra gente o tempo todo, ser tão diferente. Pensei em fazer amizade para que ela não se sentisse tão diferente. Não deu, todos ficaram em volta perguntando, querendo olhar de perto, só não tocavam por medo – eu acho.
Foi então que, chegando bem pertinho, percebi que ela não estava nem um pouco assustada, parecia até mesmo muito à vontade, sorria e tentava responder todas as perguntas, então perguntei:
_ É muito horrível ter olhos amarelos? Ela, com um enorme e condescendente sorriso, respondeu:
_ Não! Como poderia ser diferente? Eu já fui uma linda margarida, e dessa vez nasci menina, meus olhos são a lembrança de uma vida feliz de flor. Minha mãe já me contou tudo.