Encerrando nosso dia de contar história com categoria...
Inteligente sim, forte não.
O
Pedrão outro dia contou uma história que igualmente fez com que todos rissem
pelo fato e pelo jeitão que ele desfia suas narrativas.
Disse
ele que trabalhava com o Carlão, seu amigo também de quase dois metros, na
Fazenda do Tião Mário, ali nas redondezas de minha casinha.
Que
estavam fazendo um trabalho e se valiam para isto de uma carroça puxada por um
burro daqueles no tamanho dos dois, dele e Carlão, “pois o bicho tinha mais de
sete parmo de altura”, de nome de Geringonço.
Disse
Pedrão que no decorrer do trabalho, no período da tarde o Geringonço,
certamente por achar que já havia trabalhado demais, empacou e não ia nem pra
traz e nem pra frente.
Como
se não bastasse ele ainda se deitou e torceu o varal da carroça do Tião Mário,
que tinha verdadeiro ciúme dela, pois segundo o Pedrão sabia, ela havia sido
herdada do pai Chico Mário.
Neste
instante Carlão ficou meio apavorado e nervoso pelo que ocorria, e com medo que
o burro se movimentasse e quebrasse o varal, e se isso acontecesse o que ele
diria ao Tião Mário ?
Continuou
Pedrão a narrativa.
Carlão
mesmo nervoso ainda tenta demover ao Geringonço para que levantasse numa boa,
mas o burro se fazia de desentendido e nem bola dava pra o que o Carlão falava
e continuava ali deitado, remexendo e arriado e preso à carroça.
Quando
Carlão viu que o negócio estava ficando feio e que o burro poderia quebrar o
varal o que deixaria Tião Mario louco com ele, sua paciência acabou.
Foi
lá soltou o arreio, levantou o varal e tocou o animal para que ele se
levantasse, quando então, pensou Carlão, “eu coloco o arreio nele e novamente
na carroça pra completar o trabalho e descarregar o material que nela estava”.
E
nada do Geringonço se mexer.
Neste
momento o Pedrão, pra tirar uma com a cara do Carlão, falou para ele: “Carlão o
Geri não tá nem ai co cê. Ele só tá oiando ocê com o rabo do zoio e só não tá
dano risada por que ele não sabe ri, mais eu tô achando isso muito engraçado,
pois quem vai tê que puxá a carroça até o manguero é ocê”.
Carlão
muito irritado pela situação e pela gozação do Pedrão falou: “A é assim ? Então
Pedrão ocê vai vê quem pode mais”.
Carlão
deu uns passos na direção de Geringonço, juntou no pescoço do animal e à força
tentava fazer com que ele se levantasse e o Pedrão vendo aqui somente ria da
irritação de Carlão, pois o Geri nem bola dava a ele.
E
pra cutucar a onça com vara ainda curta e irritar mais o Carlão, Pedrão chegou
perto do Geri, que é como ele chama o animal, com o Carlão agarrado ao burro e
falou: “Geri, vô dá um coseio procê: Se eu fosse ocê eu levantava e puxava a
carroça até o manguero pra descarregá, e ficá tudo resorvido, pois ocê vai tê
desvantage com o Carlão, pois eu acho que ocê é mais inteligente que ele, mas
mais forte ocê não é, e oce só vai levá a pior. Te aconseio, levanta”.
Completou
Pedrão: “Neste instante o Carlão dá uma oiada pra mim, larga o Geri e parte pro
meu lado P da vida, com certeza pra me dá uns tapas, e memo sendo desse
tamanhão que eu sô, cá réiva que o Carlão tava não tive outro jeito se não dá
uma corrida pras coisas não ficá pior. O Carlão também ameaçô uma corrida mais parô
uns metro à frente xingando toda minha famia, principarmente minha mãe e
pedindo que não falasse mais com ele.”
Pedrão,
mesmo tendo dado uma corrida ainda não se deu por vencido e fala pra Carlão:
“Tá bão, então nois tamo de mar um co otro, só quero sabê com quem que ocê vai
pras farra, vai tomá umas cachaça e proseá nos finar de tarde. Dexa está”.
Virou e saiu andando com os passos meio ligeiros e com o rabo de olho
observando se Carlão não vinha atrás.
Do topo do morro viu que o burro Geri se levantou e
pensou, já tá tudo perdido mesmo, então perdido e meio e gritou pra completar a
irritação do companheiro: ‘Carlão, viu ?
O Geringonço escutô meio conseio e viu memo que ele é mais inteligente que ocê,
mas mais forte ele não é, então por isso ele se levantô’.
O
Gerigonço se levantou, mas o Carlão sentou no barranco e ali ficou um tempinho
de cabeça baixa olhando pra o burro e por vezes ao Pedrão que do alto do morro
observada tudo, depois Carlão deu continuidade na caminhada com o animal
puxando a carroça e pondo fim à labuta diária.
Carlão
ficou quinze dias sem falar com Pedrão, mesmo continuando a trabalhar junto no
dia a dia, mas num final de tarde se encontraram no boteco onde ‘faziam ponto’
e Carlão então falou: “Cumpadre Pedrão, senta aqui pra nois tomá essa cerveja
junto e trocá uns dedinho de prosa”, como se nada tivesse acontecido e não
tocou no assunto da empacada do Geringonço.
Continuaram
bons amigos e companheiros da lida diária, da prosa, da cachaça e do compadrio.
Trabalham e convivem e são bons amigos, compadres e felizes.
Brasilino Neto