Valeparaibano, 04 de setembro de 2003.
Alguns estudiosos chamam de Terceira Revolução Industrial o processo que altera as formas de trabalho humano repetitivo.O novo período denominado "Sociedade da Informação" deveria oferecer possibilidades de um desenvolvimento humano voltado para a criatividade e autonomia, além de um senso crítico apurado para aproveitar tanta informação.Toda essa possibilidade deve ser trabalhada na escola. Se a educação não tem mais por objetivo apenas o mercado de trabalho das linhas de produção ou as rotinas burocráticas, estamos, enquanto instituição, educando para quê?Essa questão é quem tem preenchido o cerne das discussões e estudos, justifica-se a angústia dos professores e a indisciplina dos alunos por não ter-se ainda alcançado o âmago de uma resposta.Trazer para a escola a responsabilidade de criar oportunidade de trabalho habilidades e competências, englobando qualidades humanas (afetivas, sociais, éticas) é a ordem do dia, no entanto traz a preocupação moral de estabelecer-se parâmetros de uma ética universal e preparar os professores para lidarem com tais questões isentando-se de possíveis valores pessoais que alterem, de forma negativa o envolvimento profissional com seus alunos.Numa rede de escolas do tamanho da rede pública de São Paulo, por exemplo, e as condições de trabalho que são oferecidas, essa preocupação deve ser ainda mais pertinente.As oportunidades de estudo e discussão desses temas não podem ser preteridas pelos profissionais da educação.Uma visão coerente do que é educação e trabalho depende dos profissionais da área e a luta não é fácil, haja vista o que está sendo feito com o entendimento dessas questões.A formiguinha trabalha e muito e não é menos importante na sociedade do que as possíveis cigarras que só lêem. A realidade e a justiça social dependem de quem vivência o quanto é árduo o trabalho intelectual e não apenas uma estratégia de manipulação dos que dependem do trabalho braçal para sua sobrevivência.Não podemos nos entregar a mais uma via unilateral, ensinávamos para as linhas de produção e burocracia, e o resultado está no nosso dia-a-dia, não podemos vestir a camisa de mais uma mão única. Eduquemos conscientes de que a informação ainda não chega a todos e transformá-la em conhecimento até os professores ainda estão aprendendo, eduquemos com a responsabilidade de quem não cria novas tendências ou modismos, mas confiantes nas verdades, para tanto há estudiosos sérios, pesquisadores responsáveis e nossa boa vontade de nos aprimorarmos sempre.
Sônia Gabriel, São José dos Campos
Valeparaibano, 16 de outubro de 2003.
Os últimos acontecimentos envolvendo a violência em nossa região nos trazem uma enxurrada de questionamentos.As passeatas e movimentações que estão ocorrendo demonstram que o povo não suporta mais, teme assaltos, teme a morte em consequência de furtos, dissabores, envolvimento de filhos e ou parentes com drogas, enfim, em poucos minutos de conversa é possível diagnosticar o sofrimento e medo da sociedade. A violência se torna mais que a consequência dos problema sociais e econômicos, ela já é chamada de epidemia.A questão que quero plantar, sim, plantar, pois se necessita da sabedoria da natureza para entender, todo um percurso até a chegada, enfim, das respostas, é a semente da "minha parte".A violência, muitas vezes é a companheira de berço de nossos filhos. O que eles crescem vendo? Brigas e agressões físicas no lar, na televisão, na rua. O que eu faço para que a rotina de meus filhos se preencha de paz, reservo uma hora para conversarmos?Evito os palavrões e as agressões aos membros de minha família? Convido os amigos de meus filhos para frequentarem nossa casa? É preciso estar presente. As fotos que os meios de comunicação publicam nos mostram rostos com 18, 19 anos. É muito pouco tempo para perder-se um filho. É urgente que se transforme num hábito estar presente na vida de nossos filhos, caminhar com eles, para que não precisemos caminhar com eles em passeatas pedindo paz. A paz pode se tornar um hábito, do mesmo jeito que a violência já está se tornando.
Sonia Gabriel, São José dos Campos
Conhecimento e Cidadania
Valeparaibano, 19 de dezembro de 2003.
Em outubro recente, aconteceu em São Paulo o 1º Congresso Internacional de Educação, cujo tema de discussão foi a qualidade na escola. Estiveram presentes pensadores, articuladores e educadores conceituados no Brasil, Espanha e Portugal. O ponto forte e ansiosamente esperado por grande parte dos educadores presentes foi a fala de José Saramago. Longe de querer nos impor uma receita ele nos deu uma aula de cidadão do mundo, relatou-nos o que assiste em suas viagens e nos preencheu de elementos para a interpretação de nossa própria verdade.O grande dilema da Educação é separar educação de instrução. Instrução, segundo a essência da palavra, é: ato ou efeito de instruir-se, instruir é transmitir conhecimento, ensinar, esclarecer; também podemos encontrar no dicionário que a palavra significa adestrar, e isso, estamos nos aprimorando para evitar, queremos um ser humano, um cidadão capaz de ter criatividade, criticidade, responsabilidade, iniciativa, nossa escola dá conta disso? Sim, não só pode dar conta disso como começa a caminhar para isso. Como? Revendo seu papel dentro da sociedade. Atualizando-se, não aceitando enlatados e fórmulas que já não funcionam em outros países e tenta-se introduzir no Brasil.Não são poucas as questões que permeiam o trabalho do educador, mas deixamos aqui mais uma: para formar um cidadão com todos os conceitos que debate-se é preciso a coragem de saber que as vezes falta algo, e o conhecimento não pode ser preterido, as atitudes, o comportamento, a postura, são elementos essenciais para o encontro da cidadania real e positiva, mas o conhecimento é nossa mais profunda e eficaz arma para sua construção, não se forma cidadãos sem o conhecimento.
Sônia Gabriel e Alessandra Rosa são educadoras e pesquisadoras em São José