sábado, 20 de outubro de 2012

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: A Lenda da Escada - Mistérios do Vale.



(Jornal de Caçapava, 19 de outubro de 2012.)

      Os índios que povoavam a região leste de Mogi das Cruzes, onde mais tarde estabeleceu-se o município de Guararema, praticavam solene ritual para o enterro de seus mortos condizente com a importância na vida de seu povo. E, dizem que, seguindo a velha lenda de seus antepassados, levantavam uma grande escada ao pé da cova para que os falecidos pudessem alcançar o céu. O céu deles, cheio de animais, luzes, água, terra e ar de mitos.

    Quando os frades do Carmo começaram a catequizar os da terra, estrategicamente, aproveitaram o antigo costume. Apresentavam-lhes uma imagem de Nossa Senhora com uma escada nas mãos e os nativos aceitaram os frades e a imagem. O contato não ofereceu maiores problemas e os religiosos fizeram construir no local, chamado Freguesia da Escada, uma grande igreja ilustrando um imenso terreno com algum verde e uma árvore frondosa e silenciosa, mas, imagino, repleta de histórias.

      Sônia Gabriel

Ligação 2012 Taubaté-SP


LIGAÇÃO - 2012. Universidade de Taubaté - SP, 19h - Saguão da Biblioteca do Bom Conselho.
Mesa de Debate:  Polêmicas na obra de Monteiro Lobato – André Campos, Conceição Molinaro e Sônia Gabriel.











Agradeço a todos pela atenção e convite.
Conceição Molinaro, obrigada pela parceria.
Paz e bem!
Sônia Gabriel


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Expedição Traje(his)tórias do rio Paraíba


     A primeira vez que fiz uma expedição, com alunos, ao rio Paraíba do Sul, foi na Escola Moppe, em São José dos Campos - SP, há muitos anos! Desta vez, 26/09/2012, foram os alunos da Escola Estadual Rui Rodrigues Dória. Nossa expedição visou as Traje(his)tórias do rio Paraíba.  
     Sabemos que aqueles que vieram antes de nós e conviveram com o rio têm muito a nos contar e ensinar.

      Uma aula "in loco", em Guararema -SP, sobre patrimônio ambiental, arquitetônico e imaterial.
      História e Cultura: mudanças e permanências.
      Professoras Sônia Gabriel e Flávia Lima















quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Neste tempo de eleições...





(Jornal de Caçapava, 28 de setembro de 2012.)

    Nos períodos de eleições a palavra usada, pelos candidatos, sem nenhum constrangimento, sem nenhum pudor, sem nenhum respeito por nossa inteligência, se mortifica entre a ferramenta e a arma. Manifestar-se é um direito também do eleitor e, em vista dos absurdos que nosso cérebro é obrigado a suportar no horário eleitoral gratuito (apenas para eles), quase um dever.

    Tenho escutado de tudo. Não vale a tinta citar, repetir o que poderia nem ter escapado de línguas sem piedade de nossos tímpanos, mas tenho também considerado as novas possibilidades. Sim, que possamos ao menos ouvir o novo, na impossibilidade de novas palavras e ideias, que sejam novas as motivações. Em política, tradição nem sempre é o melhor.

    Diante de tantos discursos inflamados e alguns necessários, principalmente por parte dos eleitores, teço minhas considerações. Talvez não tão passionais como sugira o momento, mas considero-as pertinentes.

   Política deve ser discutida sempre e os políticos, também. Quem opta pela função (que no atual contexto torna-se profissão) está se colocando no foco dos debates. A função é pública, remunerada com dinheiro público, logo pode e deve ser discutida publicamente. Quem a executa deveria ter avaliado constantemente seu desempenho. Tais ações e reflexões precisam ser ensinadas no cotidiano familiar e escolar.

    A cada dois anos, verifico ânimos se exaltarem nos debates, as escolas encherem paredes e mesas com trabalhos sobre a história dos partidos, dos políticos mais famosos, da evolução das urnas de votação... E passa. Esperam-se mais dois anos para voltar ao assunto.

   Confesso que estou cansada desse “oba-oba” das ações de ocasião. Existe uma responsabilidade no ofício de educar que é não permitir que antolhos nos sejam implantados, tentar, ao menos, semear colírio de reflexão. Não é fácil, sei, enfrenta-se muito nas salas de aula, mas temos uma ferramenta extremamente relevante: o conhecimento. O cansaço, o desrespeito, o sucateamento da profissão de professor, permitido pelo sistema, só ajuda a manter no poder quem dele deveria estar ausente.

   É no cotidiano escolar que podemos realmente formar cidadãos políticos, fortalecer a reflexão de que cumprimos deveres e exigimos direitos, inclusive o direito de não termos nossa educação prejudicada com elementos tão banais. Exigir os investimentos essenciais na decente remuneração do professor para que ele se especialize realmente; para que a classe profissional possa frequentar bons teatros; para que o educador possa ler à sua escolha e não apenas as obras selecionadas, estrategicamente, para sua formação; para que o cidadão viaje, conheça outras ações, verdades, culturas. Remuneração digna de quem estudou e estudará por toda a vida.

    Mas como imaginar, dentre nossos políticos, homens e mulheres conscientes desta necessidade? Como conceber uma política pública que se volte para a formação de cidadãos realmente alfabetizados, detentores de conhecimentos e práticas reflexivas, exercendo conscientemente seus deveres e direitos na sociedade? Sabendo lutar pelas necessidades coletivas, sabendo ouvir, escolher, votar e fiscalizar?

    Parece improvável demais? Pode até ser, mas há anos é o que tenho feito. A cada aula, a cada nova matéria, a cada novo projeto, tento que se apropriem da condição de cidadãos, tento plantar sonhos (pois não há crescimento sem eles), tento que se atentem para o fato de que não podemos ser apenas um número, apenas mais um nas filas, apenas mais um eleitor.

Sônia Gabriel



Feira Literária na Escola Lumiar - Santo Antônio do Pinhal



Dia 22 de setembro, o livro 'Mistérios do Vale' foi apresentado aos alunos da Escola Lumiar, em Santo Antônio do Pinhal - SP


Uma tarde de livros, apresentações culturais dos alunos, reencontro com amigos e ar de histórias.
Obrigada, Roseli Freitas.
Sônia Gabriel


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Era uma vez a mentira...



(Jornal de Caçapava, 21 de setembro de 2012.)


    
    Dizem que quando as gêmeas Mentira e Verdade nasceram, a Verdade veio primeiro com a Mentira agarrada, fortemente, ao seu calcanhar. O Destino sentenciou para a mãe Vida que uma de suas filhas:

Seria causa de dor por não ter subterfúgios.

Falaria alto por não saber, como a mais nova, se esgueirar pelos cantos, salivando e virando os olhos para os alvos de seus venenos.

Pisaria firme por não conseguir flutuar, silenciosamente, chegando sempre na ânsia de surpreender.

Seria inflexível, por não exercitar os devaneios do caráter de modo a servir conforme a necessidade.

Teria solidão profunda devido à dificuldade de encontrar pares que comunguem de sua essência.

Serviria às suas raízes, pois não aprenderia com a irmã a viajar instantaneamente de alma em alma adubando o vazio distraído.

Presenciaria os humanos se abrindo, festejando a egoísta presença consentida da irmã mais nova.

Diante da sorte da filha, a Vida chegou a lamentar pela existência da Verdade. 

Abrindo os olhos, com parcimônia, é possível vermos os milhares que compactuam com a dor desta embaraçada mãe.

Sônia Gabriel




Coluna Crônica Jornal de Caçapava: O Caldeirão de Ouro.






(Jornal de Caçapava, 14 de setembro de 2012.)


     Antes de Campos do Jordão ter este nome, era uma região que pertencia a Antonio Ignácio Caetano. Diz a lenda que ele  era um homem muito miserável quando a questão era dinheiro. Depois que ele morreu, começou a correr por entre o povo que, em vida, havia enterrado todo o ouro que acumulara. E, segundo o povo, não era pouca coisa.

     A imaginação popular encheu-se e o sonho de encontrar a fortuna foi tomando força. O local do suposto abrigo para o tesouro tinha até endereço: caldeirões e potes de ouro em uma lomba larga entre três pinheiros, mas exatamente onde? Contam, ainda, que quando foi enterrar o ouro levou consigo um escravo. O pobre desafortunado cavou um buraco bem fundo, enterrou o tesouro e sua recompensa pelo esforço da empreitada foi a morte. Para que ninguém descobrisse o local exato, o desbravador matou o escravo e enterrou-o.

     Depois de morto, o fantasma de Antonio Ignácio Caetano costumava cavalgar pelas terras, por entre os animais e pastagens. Há quem acredite que só depois que pagar por todos os seus pecados é que, finalmente, descansará. Seu tesouro ninguém, até hoje , conseguiu encontrar. Também dizem que uma das maneiras de achá-lo é levar na empreitada, três moças virgens e de nome Maria!

Sônia Gabriel

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Nhá Ritinha.





(Jornal de Caçapava,  de 06 de setembro de 2012.)

     Conversando com os moradores mais antigos de Santana, é possível saber muito sobre velhas histórias de São José dos Campos. Uma delas é a de Nhá Rita. Uma história de tristeza num tempo em que o transporte era feito no lombo das mulas e as mulheres podiam pouco sobre si mesmas.

     Segundo contam, Nhá Ritinha era filha de Nhô Chico, um homem com mais de sessenta anos de idade e zeloso quanto ao futuro da filha. Arrumou para a moça, que já contava quatorze anos, um casamento muito oportuno, pois o noivo, um homem já maduro e de posses, teria condições de 'tratar' bem da filha.

     Nhá Ritinha casou-se e tornou-se por préstimo do matrimônio, uma mulher rica. Rica e triste. O esposo era rude, não se dava conta da flor que tinha recebido. Os maus tratos e a ignorância no dia-a-dia fizeram daquela jovem uma mulher solitária e silenciosa. O marido serviu-se de sua fragilidade e mandou-a embora de casa. Numa época em que as convenções eram a visibilidade da sociedade, estar fora do padrão era uma mácula.

     Nhô Chico Duarte recebeu a filha de volta em casa. Tomando consciência do mal que impusera à filha, tentou tirá-la da profunda tristeza em que vivia. O pai resolveu então afastar a filha da cidade e procurou um lugar onde pudessem viver mais tranquilos.  Construiu na região de Santana um casarão.

     E foram os dois viver no casarão. Os moradores mais antigos de Santana contam que foi lá em Santana, no casarão, que Nhá Ritinha, já bem velhinha, morreu, debruçada na sacada do sobrado. E muitos anos depois de sua morte, havia pessoas que diziam que no final da tarde, passando durante os dias mais cinzentos, tristes, terem visto Nhá Ritinha com a juventude de seus quatorze anos debruçada na sacada do casarão.

Sônia Gabriel