(Jornal de Caçapava, 20 de janeiro de 2017.)
A professora Dona Cíntia, da antiga
quarta série bem feita, ensinou-me que usando a expressão ‘perguntaram-me’ eu
estaria indeterminando o perguntador. Que assim seja, pois apesar de em nada
ser da minha conta a ação contida, uma pergunta me foi feita e pensando sobre
ela, mesmo não a tendo respondido, pois não tenho competência para tanto,
encasquetada em minhas considerações ficou.
Uma amiga querida, preocupada com
outrem, contou que outrem estava em saia justa com quarto elemento de tanta
consideração (por Deus!) por ter concretizado atitude que poderia culminar em
prejuízo para... Mas nada proposital, ação realizada pós
conversa-quase-permissão. Porém, ficou aquela sensação, pelo jeito do
desenrolar todo, que poderia não ter
sido bem assim, ao menos pareceu-me, pois tem muita gente preocupada com o que
pensou um ou outro, enfim.
Que mundo é esse onde o outro é tão
pouco perante nossa pretensa importância, não é mesmo? Estamos a cada dia,
desesperados em estar mais que o outro. Note que ninguém, aqui, está tendo a
pretensão de dizer ser, pois ser entraria em outra categoria de seres humanos
da qual temos nos afastado muito. Quase não encontramos mais médicos,
professores, padres, motoristas, advogados, cozinheiros, jornalistas;
encontramos pessoas que “estão” médicos, professores, padres, motoristas,
advogados, cozinheiros, jornalistas... Ser subentende valores, ao menos para
esta pobre criatura com pretensão de pensar. Valores? Andamos com muito medo
dessa palavra. Reflexo da tal flexibilidade.
Como falar em valores se a
flexibilidade capitalista nos exige um politicamente correto? Também não sei,
tanto palavrório para que eu possa tentar entender o que meu coração não
consegue e, por fim, voltar à máxima que minha mãe, sem diploma universitário,
conseguiu impregnar em mim: “Pense se fosse você no lugar do outro... o que
sentir é a resposta”.
Fato é que, na maioria das vezes,
reconhece-se as respostas e com o ínfimo de dignidade que resta, precisa-se da
aprovação em torno para conseguir diminuir o incômodo de conviver com algumas
atitudes. O que é mais forte em nós sempre nos define no todo. Quando isso é
bom, que se abram os corações.
Sônia Gabriel