Todo final de
ano, eu faço uma revista em minha coleção de colares e distribuo. É um momento
tenso, sim, muito tenso. Eu me obrigo a doar alguns, dez no mínimo. Se não
fizer isso, terei que construir um quarto só para eles, algum dia, pois sempre
ganho mais que distribuo. Eu desenvolvi um fascínio pelos colares. Guardo o
primeiro que comprei. A partir daí, sempre que podia, adquiria mais um. Comecei
pelos artesanais e pelos mais simples e com o passar dos anos, fui me
encantando pelos mais elaborados.
Os amigos e
parentes percebendo meu gosto pelo adorno passaram a me presentear e a coleção
foi aumentando. Cheguei a ter 130 exemplares reunidos e, veio o estalo de que
isso era um absurdo! Não tinha caixa e gaveteiro o suficiente para guardá-los,
considerando que também gosto das pulseiras, anéis e brincos.
A questão do
adorno sempre me fascinou, creio que por eu não saber ser vaidosa. Não sei me maquiar, no cabelo faço o corte mais
prático que existe: o bagunçado. As pessoas pensam que é estilo e eu sei que é
falta de jeito. Os colares são, então, meus grandes aliados. Elegantes,
práticos, despojados, delicados, exuberantes, alegres, sensuais... Não importa
a roupa que coloco, adorno com um colar e pronto! Sinto-me arrumada!
No Museu do
Louvre, eu vi alguns dos colares mais antigos do mundo e foi muito intrigante
perceber que os gostos realmente não mudaram tanto. As peças em ouro, as pedras
preciosas, o designer dos ourives de há milhares de anos ainda seduzem os
olhares femininos. Consegui ver-me usando a maioria deles. O que enfeitava as
rainhas e sacerdotisas hoje estão ao alcance de todas nós plebeias com metais
menos nobres, mas de colorido e estilo igualmente belos. Viva as bijouterias!
Das barracas
nas feiras de artesanato às barracas no comércio popular, das lojas temáticas
às joalherias dos centros comerciais mais badalados, há colares para todos os
bolsos e gostos. Eu pareço criança em loja de brinquedos diante da diversidade
de colorido, forma, textura e imaginação. Sim, os colares aguçam nossa imaginação.
Eles enviam recados, basta o exercício divertido de desvendar. Mas o recado
principal é o cuidado de se gostar. Escolher um colar, aproximá-lo do pescoço,
ver-se adornada por ele é saber-se bonita. E, saber-se bonita é um direito de
todas nós. É isso, os meus colares me lembram que sou bonita para mim! Que sou
bela com a minha idade, com as minhas características físicas, com as minhas
cicatrizes, com a minha história.
Toda mulher é
bela, está intrínseco em nossa condição feminina. A beleza se manifesta em cada
uma de nós em nosso modo de encarar a vida, as batalhas cotidianas, as
alegrias, as tristezas, as vitórias, os desafios; nós nos encontramos nos
nossos detalhes mais íntimos, no nosso empoderamento por meio de escolhas. Há
mulheres que escolhem como lembretes da sua beleza: roupas, sapatos,
maquiagens, bolsas, brincos, pulseiras, anéis, cortes de cabelos, modos de
sentar, modos de sorrir, jeitos de olhar... Eu escolhi os colares! Sem eles, me
sinto tela inacabada, texto sem desfecho, manhã sem brisa...
Sônia Gabriel