quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Matéria sobre a Escola Rui Rodrigues Dória
A matéria cita o trabalho de resgate que eu e minhas colegas professoras desenvolvemos na escola e a pesquisa de nosso colega Carlos Alberto Fernandes Pinto.
Paz e bem!
Sônia Gabriel
"valeviver
Cheia de histórias, escola Rui Dória completa 47 anos
São José dos Campos
Isabela Rosemback
Daqui a uma semana, a escola estadual Doutor Rui Rodrigues Dória completa 47 anos no bairro Santana, à zona norte de São José dos Campos. Por ela, passaram milhares de joseenses e, muito da história e do patrimônio que ela reserva, foi descoberto recentemente por um grupo de professores.Durante as reformas da unidade, muitos dos documentos arquivados foram relidos e revelaram novas informações sobre a inauguração e a posterior venda da escola ao governo estadual.Uma dentre os professores que levantaram esses dados é a historiadora Sônia Gabriel, que reuniu dados com o intuito de um dia transformar esse histórico em livro.A construção da escola, popularmente conhecida como 'Rui Dória', foi tocada por Monsenhor Luiz Cavalheiro, padre muito querido na zona norte e que era conhecido como o "xerife" ou o "prefeito" do bairro Santana.A ideia era levantar uma unidade educacional naquele local, que era o centro da região norte da época, para que os filhos dos funcionários da Rhodia e da Tecelagem Parahyba pudessem estudar. Uma lei federal da época obrigava empresas com mais de 100 operários a oferecerem condições de ensino para os filhos desses trabalhadores.A obras tiveram início em 1961 e, no ano seguinte, a unidade foi inaugurada. Monsenhor foi quem tomou a frente da construção e, exigente que era, contratou a melhor equipe para executar o serviço. Ele acompanhava de perto a evolução do prédio, que era financiado pelas empresas.Em 1961 foi que a primeira turma foi aberta, em um sala improvisada no salão do asilo dos Vicentinos, atrás da igreja matriz do bairro. Lucila de Fátima Lima Barros pertenceu a esse grupo.A cada ano uma série era inaugurada, até que as quatro passaram a existir. "Cada ano era uma freira diferente que dava aula, mas a minha professora da primeira série deu um jeito de acompanhar minha turma todos os anos", disse.Quando foi inaugurada a unidade nova, ela recebeu o nome de "Escola Paroquial Olivo Gomes" e tinha capacidade para atender 640 alunos. A atual vice-diretora da unidade, Cleide Maria Fonseca Gouvêa Pereira, 59 anos, foi uma dentre os matriculados."Antes eu estudava na Sant'Anninha, mas meu pai trabalhava na Tecelagem e tanto ele quanto minha mãe eram muito católicos e se animaram para me inscrever. Na época todos queriam estudar nela, mas ainda era fechado aos filhos dos funcionários", disse.Ela e suas colegas usavam uniformes que se assemelhavam a um avental. Era um vestidinho xadrez azul marinho que tinha mangas e eram abotoado atrás. Nos pés, os sapatinhos tinham de ser pretos e as meias brancas.Quem dava as aulas eram as freiras da Congregação Cordimariana, chamadas do nordeste, por Monsenhor Luiz, especialmente para dar aulas a essas crianças."Todas elas tinham sotaque de lá e a gente achava isso muito chique. Elas eram mais ou menos rígidas, não eram tanto. Era tudo muito organizado, a gente andava em filas e, se um professor faltasse, enquanto um substituto não chegasse a gente tinha de ficar rezando o terço", conta.Em cada uma das salas havia um crucifixo e a oração "Pai Nosso" era rezada em todo o começo de aula. Monsenhor Luiz administrava a escola, dava aulas de religião, e andava pelo pátio brincando com as crianças.No registros da paróquia, a historiadora Sônia Gabriel encontrou uma anotação do padre que dizia que a inauguração da escola havia sido "um acontecimento de máxima importância para a nossa paróquia e um presente do céu".Na década de 1980, a escola foi vendida ao governo do estado e, em 2007, ela passou por uma reforma de ampliação. (leia texto nesta página).
Na década de 1980, Monsenhor Luiz estava ocupado com as obras do hospital Pio 12 e já não estava dando conta de cuidar da escola e dos demais projetos que tocava. Na mesma época, as empresas que financiavam a escola já estavam declinando, o que também dificultava a manutenção das atividades escolares.Neste período, então, ele decide vender a unidade ao governo estadual. Quem o conheceu de perto ou ouviu relatos de quem era muito próximo do padre, conta que ele sempre foi muito determinado e não era de pedir opinião aos outros quando tomava alguma decisão."Ele sempre inovava e construía outras coisas, como a creche. Era bem relacionado e sempre dava um jeito de conseguir o que ele queria. Seu parentesco com Carvalho Pinto e o ex-presidente Rodrigues Alves colaboravam para isso", disse o historiador Carlos Alberto Fernandes Pinto, 43 anos, autor de um livro sobre a vida de monsenhor.Quando vendeu a escola ao Estado, Pinto conta que houve uma solenidade em que estiveram presentes representantes estaduais. A historiadora Sônia Gabriel afirma que já ouviu relatos de que ele teria soltado fogos quando fechou negócio.Em 2007, a escola passou por nova reforma, que ampliou as salas e ganhou nova pintura. Mesmo assim, o cuidado em preservar a história da escola ainda é estimulado na unidade com projetos desenvolvidos em conjunto com alunos e professores. O último grande projeto de resgate histórico foi realizado em 2006.
A inauguração da escola aconteceu no dia 17 de fevereiro de 1962, em uma celebração iniciada às 17h. Uma fita foi descerrada pela viúva de Olivo Gomes. O bispo auxiliar de Taubaté, D. Gabriel Bueno Couto, foi quem fez a bênção litúrgica.Ex-alunos contam que quando as aulas começaram, os meninos estudavam em salas separadas das meninas. Outra lembrança comum, é a imagem grande de um anjo que ficava no pátio desde que a unidade foi inaugurada, mas que há um ano quebrou e teve de ser substituída."A gente dizia que era o anjo Gabriel, mas ninguém sabia que anjo era aquele. Os mais religiosos costumavam ajoelhar em frente a ele e fazer o sinal da cruz", conta a Cleide, atual vice-diretora.Esse anjo chegou a ser levado para a casa das irmãs, que fica na mesma rua do Rui Dória, quando a escola passou a ser do estado. Mas houve, à época, uma procissão de alunos pedindo para que ela voltasse ao pátio, para onde voltou e ali permaneceu até o ano passado.Em um inventário descoberto à ocasião da reforma, a historiadora Sônia Gabriel identificou muitos dos objetos e adereços que compunham a escola antes de ser vendida ao estado, mas que não existem mais.Alguns exemplos seriam as 11 persianas em estado regular, 5 porta guarda-chuvas, 10 cortinas duplas de fazenda, uma prateleira de madeira e uma estante grande de três portas de vidro."A única coisa que resta daquela época é uma antiga geladeira, daquelas pesadas que têm de ser abertas com as duas mãos", disse Sônia."
Fonte: Jornal Valeparaibano - Coluna Memória
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Coluna Crônica: A essência da beleza.
(Publicada no site da Revista Caros Amigos, setembro de 2004)
Foto: A caminho de Paraty -2009 -Sônia Gabriel.
O que é ser belo?
“Eta” perguntinha difícil! Todo dia diante do espelho milhares de pessoas se olham, se admiram, se odeiam, se envergonham, se questionam sobre o belo. Tentando cuidar da saúde procurei um conceituado endocrinologista. Eu sou lenta, aliás, faço um esforço imenso para não ser, mas sou lenta. O médico preocupado com tanta lentidão colocou-me diante de um espelho e perguntou o que eu via. Sei lá o que eu via, dizem que a gente nunca se vê de verdade. Não somos, segundo os psicólogos, tantos ao mesmo tempo? O certo é que ele, muito gentilmente, disse que a minha demora é por conta da aceitação: “Você é uma mulher bela, se aceita”.
Será que alguém nesse mundo apressado eladar da minhante chega aquela como todas as outras mulheres fazem mas que nela se destacam mais., beijos e afagos e para mim e tão virtual se aceita? Quando a gente liga a televisão, abre o jornal, as revistas... É sempre a mesma coisa. Produtos de beleza, fórmulas milagrosas, cirurgias plásticas... Tudo bonitinho e embaladinho nos chamando, nos seduzindo para alcançar a beleza ideal. E quem já não se sentiu tentando a seguir uma dessas fórmulas milagrosas?
Mas afinal como é a beleza ideal?
Para os antigos gregos (nada mais propício do que citá-los agora) a beleza expressava um modo de vida do cidadão. O grego belo era aquele que praticava exercícios físicos, zelando sim pelo seu corpo, mas era também aquele que aprendia música, discutia política, tinha gosto pelo conhecimento e pelas artes. A beleza tinha que ser construída, não era apenas o físico, tinha que ser plena também no espírito.
E foi sentada aqui diante do computador, estudando sobre a beleza que a memória, aliás, na Grécia também ela é uma deusa, me trouxe um exemplo de beleza.
No início do ano, estávamos aguardando a professora que nos ensinaria o que é posicionamento filosófico na prática do dia-a-dia, de repente chega uma mulher baixinha, baixinha mesmo, com um salto altíssimo de fazer Luis XV se torcer de inveja, cabelos loiros, olhos claros grandes e expressivos, escancarando uma saia curta que lhe revelava pernas comuns como as de qualquer outra mulher, mas que ela ostentava com segurança. Enfeitada com brincos, pulseiras e colares como todas as outras mulheres fazem, mas que nela se destacam mais. Detalhe: ela tem um porte físico que está longe dos ditos padrões de beleza e carrega a maturidade de quem sabe ser bela acima da idade ou dos quilos a mais que se tenha. Poucas vezes estive diante de uma mulher que se encaixasse tão bem numa beleza plena. Ela é bonita de se ver, de se ouvir e de se sentir. Uma mulher perfumada, aconchegante que fez de nós, mulheres adultas, uma turma de crianças, nos incomodou, nos inspirou, nos ensinou, nos acolheu e se despediu como aquela nossa professora de jardim: com abraços, beijos e afagos. Deixou a sua marca, a lembrança de sua presença. Quanto a mim, tive metade de meu caminho facilitado na compreensão do que é, afinal, o belo.
Sônia Gabriel
Opinião: Jornal Valeparaibano - Saudosismo Ideológico
( Publicado no Jornal Valeparaibano em 17/10/2004)
Mitos e produtos da sociedade, da indústria cultural devem ser considerados como superestrutura para análise de uma dada sociedade. Presenciamos a era da produção em massa, e nesse tempo a ideologia perde aquela sua essência, que era característica de seu significado e funções nos anos progressistas do capital, contra ou a favor, inclusive graças a facilidade com o qual a mídia ligada às massas penetra no inconsciente nosso de cada dia, posto que nos mantemos na condição mais literal de espectadores.A ideologia se petrifica, sua moldura utópica cai, se despedaça. A ideologia tem a sua origem no ser, ela é uma defesa pessoal e totalmente transferível, nos fortalece para compreendermos verdades que são transformadas em universais.
Produzem-se ideologias, mas só tenho visto apologias, que sejam de interesse do primeiro, segundo, terceiro, quarto ou 'quinto' poder, desculpem-me se já existirem outros não tenho conseguido acompanhar o surgimento de tantos poderes, todos querem ter poder. É mais um produto, que seja em Brasília ou sobre o controle remoto é imperativo a autoridade do poder e é antagonicamente o reflexo da falta de poder.Não há mais ideologias como as que vivenciamos, tudo se transforma, estamos em busca de quê? Quando finalmente chegaremos ao poder? Há espaço, lugar no globalizado mundo dominado por um novo imperialismo com as mesmas ambições de sempre só utilizando receitas novas? O que mais assistiremos se tornar produto? A vibração continuará se manifestando nas apologias a tudo que apenas entorpece e não permite a observância dos fatos?
Podem me acusar de saudosismo, e tenho, não das tormentas é óbvio, tenho saudades das convicções seguras e não apenas de ocasião, tenho saudade da vibração democrática.
Sônia Gabriel é professora em São José dos Campos.