(Caçapava, 08 de maio de 2014.)
Viajando pela literatura brasileira, encontramos preciosidades que nos orientam o olhar para as belezas de nossa terra. O rio Paraíba do Sul é citado em inúmeros livros dentre eles, ‘Peregrinação pela Província de S. Paulo (1860 – 1861)’, de Zaluar.
Augusto Emílio Zaluar nasceu em Lisboa, Portugal, em 1826 e faleceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1882. Entre 1860 e 1861, realizou uma viagem do Rio de Janeiro a São Paulo em que fez um diário com apontamentos sobre as cidades do Vale do Paraíba em que passou. Registro publicado em 1862. O autor foi tradutor, produziu romances, contos, peças de teatro, livros didáticos e biografias. Foi o redator-chefe do jornal O Paraíba, onde Machado de Assis colaborava.
Dentre as notas sobre o rio Paraíba do Sul, algumas me encantam pela intimidade e amorosidade que as águas bravias despertavam em seu observador. Passando pela cidade de Queluz, ainda vila, registrou que “No fundo de um vale delicioso desdobra-se a toalha límpida e clara das águas do Paraíba, que de uma à outra margem beijam preguiçosas as casinhas pitorescas da povoação, em número de noventa e cinco, agrupadas sem simetria, mas que dão um aspecto dos mais deleitosos ao complexo desta paisagem verdadeiramente americana”.
Sobre a ponte da cidade anotou que “A vila de Queluz não está, como as outras povoações que hei visitado, edificada toda em uma só margem do rio; agrupa-se de um e ouro lado, comunicando por uma elegante ponte de madeira que se acaba de terminar agora, construída à custa do govêrno de São Paulo, por solicitação do sr. deputado provincial Dr. Luiz Dias Novais, na importância de 20:000$, sendo as madeiras oferta dos particulares. Esta ponte substitue a rude piroga, ou canoa, em que até aqui se costumava atravessar o rio.”(sic).
Em Pindamonhangaba, Zaluar coloriu ainda mais a paisagem do rio com uma descrição digna dos românticos: “O Rio Paraíba, em uma de suas infinitas e caprichosas circunvoluções, passa docemente, espreguiçando-se em uma voluptuosa curva, e parece, segundo a frase do Sr. Homem de Melo, imprimir nas orlas da cidade namorada um ósculo de amor! As donzelas que à tarde passeiam sôbre a ponte, como é de uso aqui, atiram às águas do rio algumas flores, e êste, orgulhoso com a dádiva, foge arrebatando-as no seio, gemente e saudoso, como um amante que se despede, certo da vitória, daquela que o adora!” (sic).
Mas apesar de serem muitas as anotações simpáticas e de admiração, o cronista também fez severas críticas aos governantes da região pela falta de zelo para com as cidades cortadas pelo Moço Paraíba, mas é assunto para nossas próximas considerações.
Sônia Gabriel