quinta-feira, 18 de agosto de 2011

História de José Antônio Braga Barros



Esta hilária e verdadeira história foi enviada pelo poeta Braga Barros - made in SJC e Paraisópolis...
Apreciem...

 "Essa é de morte...

Sônia, por favor não caia. A coisa é séria. Sabe aquele meu tio que não gostava de pescar aos sábados, por que sábado tem muito vagabundo na beira do rio e então ele só pescava durante a semana...  Pois é, por muitos anos ele foi dono de uma funerária. E naquele tempo, cidade do interior, pacata, quase não havia enterro, ele lamentava:
-É, a vida tá difícil, não morre ninguém!
E para piorar as coisas, ainda veio um concorrente abrir outra funerária, quase que em frente à sua. Aquilo foi uma afronta. Quase que eles se matam. Foi preciso até uma interferência política. A Câmara Municipal teve que votar a Lei Nº 1.066 de 01/10  /1985 disciplinando a questão. Dia par o defunto é da funerária A, dia ímpar é a vez da funerária B. Isso apareceu até no Fantástico. Assim a paz voltou a reinar no Paraíso. Mais tarde a Lei nº 1718 da abril de 1999 deu nova redação à anterior, mas manteve em seu quinto artigo: “As duas empresas concessionárias executarão os serviços funerários, trabalhando em sistema de plantão, observando-se, obrigatoriamente, o critério de atendimento a óbitos alternados ocorridos dentro do município de Paraisópolis, independente de raça, cor, credo religiosos, condição social ou econômica do falecido”.
Naquele tempo os caixões de defunto eram fabricados na oficina de meu tio, que ficava na parte de baixo do sobrado onde ele morava com sua enorme família. Então, meus primos e primas e eu também brincávamos de pique de esconder na oficina e era muito comum a gente se esconder dentro dos caixões e ficar bem quietinho para ninguém nos encontrar. Prendíamos até a respiração.
Também era comum naquele tempo, em uma cidade sem recursos, as instituições como Santa Casa e Asilo, terem apenas um caixão de defunto para os pobres e indigentes. Então acontecia todo o ritual do funeral, mas no momento final, abria-se o caixão, virava-o de boca para baixo, depositava o conteúdo e a embalagem era devolvida para um outro enterro. O caixão voltava vazio à espera do próximo.
Minhas primas sempre muito estudiosas ficavam até altas horas da noite na oficina fazendo suas tarefas e trabalhos escolares. O inusitado disso eram as suas escrivaninhas. Elas colocavam três caixões de um lado, três do outro, sobre eles atravessava uma tampa de caixão e com muita tranqüilidade usavam aquilo como uma mesa de estudos. Todas foram bem sucedidas em suas profissões.
Uma tomou gosto pela coisa e até hoje toma conta da funerária e tem o maior cuidado em trocar, arrumar e conversar com os defuntos durante o ritual de preparação do corpo para o velório. Mas o tio que gostava tanto de pescar, acabou falecendo em uma viagem que foi para o Mato Grosso para esta aventura. Seu corpo voltou trasladado.
Nessa época a cidade já começava a crescer e o pequeno cemitério antigo já não tinha espaço para novos sepultamentos. A Prefeitura providenciou criar um novo em estilo moderno, com cara de jardim, bem estruturado. E não é que esse meu tio que era o dono da funerária, foi quem estreou o novo cemitério e está enterrado na cova número um.Pode ir lá conferir!
E tem aquela história da vovozinha que tristemente comentava a morte de um neto em um acidente com bicicleta. Depois de suas lamentações concluiu:
- Mas o velório da Lúcia (minha prima) É DEZ! Tem café toda hora, pãozinho quente até de madrugada! Uma beleza!
Vida longa para todos!

Braga Barros"

Um comentário:

Barja disse...

Grande Braga! Muito boa a história! Abraços!