terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Antigos modos.



( Jornal de Caçapava, 02 de dezembro de 2011.)    
                         
O telefone tocou, atendi, era minha mãe. “Benção, mãe.” Principiei a conversa, tem sido assim a vida inteira. Os espectadores diminuíram os ruídos inverossímeis que externavam, não me perguntaram nada, mas eu soube qual era a indagação. Assim ficou. Não foi a primeira vez que ocorria o acontecido, alterando-se apenas plateia e cenário.
O curioso é que passados alguns dias, o telefone tocou, mesma sala, quase os mesmos espectadores. Atendi, era meu filho e lhe respondi: “Deus lhe abençoe, meu filho”. Desta vez as perguntas não faltaram. Um dizia que era lindo, que há muito tempo não via um filho que pedisse a benção. Outros, já pedindo desculpas, questionando que não somos nada para abençoar alguém, e mais algumas considerações que quase todos nós já ouvimos quando praticamos algum comportamento considerado antigo.
É isso, no final do pseudodebate, do qual eu apenas fui ouvinte (sorria de vez em quando, achando graça e apenas), chegaram à conclusão que esses são modos antigos, que não refletem realmente respeito. Que seja.
Depois, como tenho costume, no calor das discussões jamais se pensa nada de verdade, fiquei confabulando comigo.
Teci, como latina Ariadne, minhas considerações. Muitos dos avaliados antigos costumes têm lá seu valor. Pedir a benção aos pais, ou solicitá-la a Deus para aquele que lhe estende a mão, não me parece nocivo. Mais nocivo para nossa vida social é que alguns costumes estão se tornando antigos, por exemplo ceder a vez; pedir licença; ouvir antes de falar; sorrir aos que lhe solicitam, mesmo que não possa atender; dizer obrigado, mesmo que quem lhe atenda o faça por obrigação; abrir uma porta; auxiliar com as sacolas e pacotes; elogiar uma atenção...
Continuo acreditando no equilíbrio como a melhor opção para nosso crescimento como seres humanos e para a convivência. Nem tudo o que já fomos merece ser depreciado, nem tudo o que somos tem tanto valor.

Sônia Gabriel


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