(Jornal de Caçapava, 01 de junho de 2012.)
Subindo para o Bairro dos Marins, vindos do centro da cidade de Piquete, vamos assistindo a paisagem se tornar cada vez mais verde, mais rural e mais íntima. Em 2005, estive na residência do senhor Lucas Rodrigues. Comunicativo e apaixonado construiu, no amplo quintal de sua casa, o Cantinho Histórico dos Marins. Só visitando para entender o intento.
Bom de prosa, o anfitrião, após nos apresentar seu museu, contou histórias que valeram o registro, numa delas teve a parceria de sua irmã Maria Aparecida. É um causo mais ou menos assim...
Dona Maria Aparecida Rodrigues tinha sete anos e uma irmã com uma filha ainda novinha (a irmã estava de resguardo). Havia na família de dona Cida a tradição de se guardar o dia de Santa Luzia, a protetora da saúde dos olhos, dia 13 de dezembro. A tradição foi iniciada pela mãe de dona Cida, por uma graça alcançada, e nesta data evitava-se trabalhar. Era para oração, descanso e homenagem à Santa. Contrariando a tradição, as irmãs resolveram visitar uma parenta bem no dia de Santa Luzia!
Para chegar à casa da tal parenta, tiveram que atravessar um córrego. A morada era muito ruim, uma tapera mesmo, segundo o relato de dona Cida. Contavam os moradores do lugar que no local sempre aparecia assombração. As duas irmãs foram convidadas para dormir na casa e comprovar os rumores. Dona Cida conta que não queria ficar, pois tinha muito medo, mas resolveu esperar para acompanhar a irmã na volta.
A dona da casa começou a lavar algumas roupas que estavam sujas e as visitas comentaram sobre guardar o dia de Santa Luzia. A esta altura, o dono da casa teria debochado da preocupação das visitantes. Chegando a noitinha, acenderam a lamparina e foram passar as roupas com ferro à brasa. Neste momento, ouviram um barulho como se alguém tivesse pulado no quarto. As mulheres ficaram assustadas e pensaram que poderia ter sido o cachorro. De repente, um clarão na direção do quarto. Ninguém sabia o que era. Nisso, a lamparina apagou-se e elas escutaram uma pessoa andando pela casa, a roupa encostando-se aos móveis e sentiram um vulto debruçar sobre elas. Gritaram, mas nem o dono da casa, que estava dormindo, acordou. Não conseguiram nem rezar, tamanho era o pavor.
A sensação que ficou em dona Cida foi de que a assombração era gelada. Aos poucos, o vulto foi voltando na mesma direção que havia entrado. As três se arrastaram até o quarto e conseguiram acordar o homem. Acenderam novamente a lamparina. Nem pensaram, mesmo com o ribeirão cheio e com chuva, saíram pela região até voltar para casa, cheias de barro. Foi de arrepiar.
Desmancharam a casa, repleta de assombrações, faz uns sessenta anos. Dona Cida ainda está lá, firme e forte para contar.
Sônia Gabriel
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