terça-feira, 4 de setembro de 2012

Uma história de Maria do Amparo


Ela chegou depois, de mansinho, tomou conta de meu coração e permanecerá...

"Feliz Aniversário!

"Sou caipira pirapora, Senhora de Aparecida. Ilumina a mina escura, o trem da minha vida..." Ao som da canção "Romaria" e de fogos de artifício que a cada minuto pipocavam no céu lilás daquela manhã de agosto _ sim, a manhã de inverno na serra é lilás! ouvia-se também o tropéu dos cavalos e sentia-se a emoção que tomava conta dos olhos e dos corações dos cavaleiros devotos.
À frente da tropa, nossa Bandeira. Impávida, colossal. Balançava de um lado para o outro demonstrando moral e civismo que também notava-se estampado no rosto marcado pelo tempo do mais velho cavaleiro. Logo atrás, com respeito e fé, a pequena imagem da padroeira do país seguia amparada pelo peito forte e emocionado do líder do grupo. Frágil, é uma imagem de gesso; grandiosa, no sentimento de devoção que desperta nos romeiros.
Seguiam felizes! Um contentamento que saltava aos olhos e ao coração de todos. Cavalos bem tratados, pareciam agradecer a devoção de seus donos e muitas vezes soltavam uma fumaça quente pelas narinas demonstrando o contentamento. As charretes, poucas, talvez quatro ou cinco, iam no final e levavam crianças e mulheres. Antes da Romaria partir, fora servido o café com biscoito de polvilho à moda. Nove dias seguidos, antes, o terço fora rezado às sete da noite. Na última noite, canja, moda de viola e cantoria. Ai, que coisa boa!
A Romaria seguia agora, já distante dos ouvidos do pequeno povoado, em direção à curva mais perigosa da estrada que, naturalmente, engolia a todos. Sumia das vistas dos que ficaram. Por quatro dias e quatro noites,famílias ficam sem filhos; mulheres sem maridos e filhos sem pais. Estão todos com o pensamento na romaria e, devotamente, rezam o terço antes da janta.
Enfim chegam ao esperado destino e assistem à missa com fé e cansaço. Os chapéus agora, que antes protegiam do vento, da poeira, do sol e da chuva, estão na mão direita e apertados contra o peito. Recebem a benção e a Romaria prepara-se para voltar. Já é hora.
É final de tarde de domingo e o pequeno povoado já sabe como receber os bravos cavaleiros: fogos, música e canja quente. E assim se dá. Chegam os cavaleiros e seus cavalos, cansados! Empoeirados, pois a jornada foi dura. A cantoria e a canja seguem noite a dentro. Todos felizes e realizados. Distraídos o bastante para não observarem um cavaleiro, aniversariante do dia, que sem seu cavalo, despediu-se de todos a seu modo e lentamente caminhou em direção à grande represa, de águas profundas e misteriosas, mergulhando para sempre para o outro lado da vida. Feliz e realizado!"


Maria do Amparo Gama


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