terça-feira, 28 de abril de 2015

Projeto Palavras que moram em nós... no Jornal O Lince.






Palavras que moram em nós...

(Carlos Abranches e Sônia Gabriel. Jornal O Lince, jan/fev 2015)

Foi lançado, recentemente, em São José dos Campos – SP, numa escola da Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo, o livro ‘Palavras que moram em nós’. A obra poética envolvendo educadores e alunos dos Ensinos Fundamental e Médio da E. E. Dr. Rui Rodrigues Dória teve como parceiro e voluntário o escritor e jornalista Carlos Abranches.

O livro ‘ Palavras que moram em nós ’ é o resultado do desdobramento do projeto Almanaque Rui Dória[1], desenvolvido desde 2012 pela Escola Rui Dória. Observando, principalmente, as relações entre pais e filhos, nos momentos dos Conselhos Participativos e nos conflitos ocorridos na escola, optou-se por apresentar aos alunos a oportunidade de terem contato com textos que oportunizassem momentos de reflexão sobre a afetividade no lar. 

A idealização do projeto se construiu tendo como base a obra do escritor e jornalista Carlos Abranches[2], ‘A casa que mora em mim’[3]. O projeto considerou a leitura da obra, encontros com o autor e a produção escrita com foco na memória afetiva concretizada na produção poética. Sonho antigo dos educadores em realizar um projeto literário visando ampliar as possibilidades de leitura e escrita dos alunos, foram consideradas no projeto as habilidades de ler, escrever, reescrever, apreciar poemas, organizar lembranças a partir de relações com seus elos fundamentais e reconhecer suas memórias afetivas como um patrimônio pessoal que poderá alimentar sua existência, significando as ações cotidianas desses alunos.

O projeto interdisciplinar teve nos professores Luiz Vagner Rodrigues Lima, Maria do Amparo Gama da Silva, Ana Marta Terra Cabral, Cristina Arraes da Silva Follmann, Sônia Gabriel, Rita de Cássia do Prado Bonato, Rosângela Rodrigues Dias, Daniela Santos, Rita de Cássia Castilho de Araújo e Maria das Graças Esteves de Souza facilitadores para as estratégias traçadas visando ampliar as possibilidades de produção textual de acordo com as questões mais pertinentes a cada faixa etária: 6º ano – Linha do tempo: a relação do aluno com sua trajetória em família e o apego a sua casa como espaço coletivo (sugestões: História, Português, Matemática, Geografia...); 7º ano – Comunidade familiar e escolar: a relação do aluno com a família e a escola, considerando o apego a sua casa e a sua escola como espaços coletivos (sugestões: História, Português, Matemática, Geografia...); 8º e 9º anos - Transformações físicas e afetivas: a relação do aluno com suas mudanças fisiológicas e afetivas contrapondo sua individualidade ao seu ambiente familiar, em busca de um espaço privado (sugestões: História, Português, Matemática, Geografia, Ciências...); 1º ao 3º anos – A memória afetiva como patrimônio pessoal na formação da identidade do aluno. A importância das lembranças do aluno na formação de sua identidade, considerando a relação com a família e as reminiscências das casas ou casa que habitou como tesouro pessoal.

Todos os educadores de todas as turmas da escola foram convidados a participarem do processo e a produção textual foi maior que a esperada, numa prazerosa surpresa. Foi realizada uma seleção que resultou em 28 poemas englobando as questões pessoais e significativas de alunos ente 11 e 18 anos de idade. Para chegar ao excelente resultado, foram realizados, além do trabalho didático em sala de aula, encontros com o autor Carlos Abranches. Nessas oportunidades, ele apresentou sua trajetória de escritor e sua história de vida considerando suas memórias particulares da infância, que são o norte do seu livro. Esses momentos à disposição dos nossos alunos e professores foram uma singular oportunidade de fortalecimento da conexão leitor–autor–obra, e que também trouxeram à tona a oportunidade dos alunos vivenciarem suas questões, suas dúvidas e seus talentos expressos nos poemas que produziram.

Com apoio da equipe gestora, por meio de recursos do PRODESC[4], a escola[5] publicou o livro ‘Palavras que moram em nós’, com prefácio de Carlos Abranches. Esta foi uma oportunidade ímpar para os alunos que tiveram seus poemas selecionados. Oportunidade de se reconhecerem como autores, de vislumbrarem seus talentos e acalentarem sonhos que podem se realizar através dos estudos e vivências semelhantes. A obra é o reconhecimento do trabalho e comprometimento dos profissionais envolvidos no projeto. 


Carlos Abranches
Sônia Gabriel



Casa ou Lar?

Tem diferença
Entre lar e casa?
Talvez tivesse.
O afeto que dirá!

Mas lar precisa ser casa?
Não! Eu não acho!
Lar pode ser praça,
Pode ser rua
E até mesmo calçada,
Qualquer beira de estrada.

Lar é lugar,
Lugar de afeto,
Lugar de amor,
Lugar de aconchego.

Qualquer lugar
Que faz sorrir,
Que se pode amar,
Certamente é um lar.

Basta se sentir bem
Lembrando-se de alguém,
Solitário ou não,
Pode ser lar também.

Tudo está bem claro:
O lar é o mundo!
E a alegria da vida...
A busca pela paz.
O desejo de ser feliz.

Ana Clara Braga Gonzaga, 14 anos, 9º A



[1] Almanaque Rui Dória é uma publicação que compartilhou, em 2012 e 2013, as práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores da unidade escolar, além de registrar a história da escola e curiosidades do cotidiano de professores e alunos. 

[2] Carlos Abranches é jornalista de formação, mas estudou também Filosofia e Música, tudo pra melhorar seu olhar e sentimento para com a vida. Traduziu em livros algumas de suas reflexões. Três deles são de poesia. O último - "A Casa que mora em mim" - é um relato das vivências na pequena casa da infância, vivida no Mato Grosso do Sul, terra de sua mãe. Nos últimos vinte anos, Abranches vem trabalhando com televisão na região do Vale do Paraíba. 

[3] O livro ‘A casa que mora em mim’, do jornalista e escritor Carlos Abranches foi publicado pela Editora Somos, São José dos Campos – SP, em 2014. 


[5] A Escola Rui Dória, como é conhecida na Zona Norte de São José dos Campos – SP é um patrimônio que abraça gerações de alunos e conserva em sua trajetória elementos afetivos que se perpetuam na memória coletiva da região. A Escola tem sua construção ligada à história religiosa de Santana. Inicialmente denominada Escola Paroquial Olivo Gomes, foi idealizada a partir das necessidades dos trabalhadores da região, observadas por Monsenhor Luiz Cavalheiro, personalidade influente na política e sociedade joseense, durante a segunda metade do século XX. A partir da década de 1980, foi adquirida pelo governo do estado de São Paulo e passou a ter a denominação atual.






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