sábado, 24 de novembro de 2007

Saiu no Jornal - Por falar em Educação...


Assunto sempre em pauta, esta semana escrevi, no diário de nosso grupo de estudos (Oficina de Saberes), que algo vem por aí a respeito da Educação, que do jeito que está não pode continuar, já venho dizendo faz tempo...

Progressão Continuada
Jornal Valeparaibano, 09 de maio de 2003.

A Progressão Continuada, modelo adotado pela rede oficial de ensino no Estado de São Paulo, é um assunto pra lá de polêmico e foi objeto inclusive de ampla discussão no último ano eleitoral. Deixando de lado todo o repertório erudito da questão, e que, aliás, até se tenta entender, temos aqui algumas considerações pertinentes e que vamos tratar no senso comum. Alguns pais nos questionam, desesperados, acerca da burocracia da questão: "como se pode aprovar para a série seguinte um aluno que não está em condições de acompanhar esta nova série?". Esta questão é a que está em discussão entre governo, escola, pais, teóricos da educação no momento. E que se espera não tarde tanto mais. A outra é como os educadores permitem que alunos cheguem à quarta série sem saber ler e escrever. Bom seria se fosse tão simples assim, trocaríamos os educadores e pronto. Mas não é. Há pouco escrevi aqui sobre a deficiência na formação de educadores, as queixas que alguns colegas estudantes fazem a respeito da falta de professores capacitados nas faculdades. Quando formados, depararam-se com salas de aulas lotadas, alunos desmotivados ('para que me empenhar, vou passar de ano mesmo?') e que ainda carregam esse conceito do estudar apenas para passar de ano. Filhos carentes de pais subempregados que acabam tendo que se desdobrar para manterem suas famílias. Famílias desestruturadas que geram filhos inseguros diante da vida. O desemprego estrutural que cria em nossos filhos uma falta de expectativa 'para quê estudar, tem tanto advogado, engenheiro que não consegue trabalhar...'.Professores, sim, cansados depois de tantos anos de trabalho, serem ainda mal remunerados e desvalorizados pelo governo e pela sociedade. Bom, percebe-se que o assunto não é tão simples assim. O momento histórico que vivemos em nosso país é extremamente complexo e são necessárias mudanças urgentes. A educação, sem dúvida nenhuma, é o pilar de sustentação dessas mudanças, há muito que fazer. A sociedade deve e precisa conhecer melhor as leis, como são feitas e às vezes impostas e deve continuar opinando. Saber como funciona a escola de nossos filhos, nos permitirá compreender melhor o trabalho dos educadores e suas posições diante de assunto como, por exemplo, a 'Progressão Continuada', e ainda distinguir os verdadeiros heróis (como já mencionei anteriormente) dos "outros" que trabalham com nossos filhos.

Sônia Gabriel, São José dos Campos

A Nossa Parte
Jornal Valeparaibano, 13 de junho de 2003.

A jornalista Rosana de Castro sintetizou muito bem em seu artigo publicado na terça-feira o que está sendo viver em nosso tempo. Os questionamentos que fez estão em nossas cabeças todos os dias, nos angustiam e acabam por deixar em nossa sociedade marcas que não sabemos quando serão sanadas.Por uma série de motivos a vida para mim, urge; apaixono-me pelo elementar, particularmente, tenho convicção que nossa complexidade está nos levando ao caos, mesmo assim, penso e difundo que nossa reação é a mais importante, não que o governo não tenha que fazer nada e quanto a isso a sociedade se organiza, luta, cobra. Mas a nossa indignação não pode ser verbal e pronto, nem nossas atitudes passivas porque o problema é maior que nós.Tocou-me muito o texto da jornalista quando ela menciona palavras de sua mãe. E é aí a fonte de nossas esperanças. Somos o espelho de nossos filhos, salvo raras exceções.Planejar se teremos filhos ou não é imprescindível, ter certeza dos sentimentos em relação a esses filhos e as condições de criá-los e educá-los também. Não estamos dando conta, estamos culpando a escola, como se ela tivesse a obrigação de educar nossos filhos, culpamos os problemas sociais, temos que trabalhar demais por isso não temos tempo. Tudo isso também é fato, mas não nos redime.Precisamos rever nossa condição de pais, a receita de nossos pais têm falha, mas não são descartáveis, afinal estamos aqui. A fase de transição que estamos vivenciando em relação ao o que é uma família, quem compõe uma família, como vive, onde e como mora, são fatos, mas não pode nos impedir de nos dedicar aos nossos filhos, afinal transformações ocorrem, mas responsabilidade e amor devem permanecer.

Sônia Gabriel é pesquisadora e professora de História e Sociologia em São José

A Tarefa de Educar
Valeparaibano, 27 de junho de 2003.

Tive o privilégio de assistir a uma palestra com Luiz Henrique Beust, integrante do Anima Mundi, um instituto de desenvolvimento social preocupado com a educação para a paz. O tema tratado é aquele, aparentemente batido, que nós já estamos cansados de ouvir e debater: o que é o homem?Lembrei-me de um texto lido que foi oferecido por Ivone Weiss, ilustre filósofa e professora, onde se tentava desvendar o que é o homem em suas diversas e complexas dimensões. Nós, da Educação, temos como maior desafio saber com quem estamos trabalhando. Beust trata de um velho dilema com uma argumentação tão lógica e científica que nos enche de esperança. A transição histórica porque passa o homem contemporâneo o coloca constantemente em cheque, vive no inconstante, revolucionário e tumultuado mundo material onde o que é moderno hoje pode ser ultrapassado em questão de meses, e, pensa num conhecimento ainda atrelado aos moldes tradicionais e elitista de ser.Nosso apego como detentores do conhecimento nos distância de nossos alunos. O acúmulo e rapidez com que a informação chega até eles não são acompanhados por nossa insistência em mantermos nossa sabedoria como definitiva. A sociedade ocidental contemporânea se organizou nos moldes da Revolução Industrial e não se sustenta mais. As mudanças que ocorrem atualmente no mundo do trabalho estão gerando em nossos alunos uma angústia em relação ao conhecimento. Para que estudar se estamos diante de um desemprego estrutural? A inconstância, a indisciplina, a passividade são reflexos.A resposta para tantas questões está no ser. Sabiamente Beust coloca: "o homem não é o lobo do homem, o homem não é uma tábua rasa", o homem é um rocambole! Há em nós o material, o espiritual, há em nós uma consciência que não pode ser esquecida, essa consciência é que sustenta uma ética universal de respeito ao homem enquanto ser e que precisa de resgate.Na era onde impera a informação, o conhecimento precisa alcançar mais. O homem precisa ser respeitado como um todo, materialidade e espiritualidade.As mudanças de mentalidade são lentas e na escola urge que se alterem, nosso papel é mais, o conhecimento que transforma o homem não consegue ser trabalhado apenas com conteúdos e nossos conteúdos não dão conta desta tarefa. O que é essencial está sendo chamado de transversalidade, já é um ganho, mas não dá conta, se for esporádico. O educador tem autonomia e competência para também levar para sala de aula de maneira consciente noções de valores que correspondam às necessidades de nossa sociedade na elevação benéfica do ser humano.Para aqueles que conseguem desempenhar com maestria e humildade seu papel de educador, mesmo diante do panorama social atual, a tarefa será árdua, mas não impossível.

Sônia Gabriel, São José dos Campos


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