sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Promessas nossas.

(Jornal de Caçapava, 26 de novembro de 2010.)


Promessas são feitas a todo instante. Promessas para emagrecer, para arrumar marido, para conseguir emprego, para enriquecer, para curar-se de doenças, para deixar de sofrer. O homem contemporâneo não admite o sofrimento. E não o admitindo, imagina extinguí-lo. Pueril sentimento. As promessas são tão antigas quanto o homem. Surgiu com ele, creio. Promessas de amor eterno (enquanto dure), promessas de amizade verdadeira, como se amizade verdadeira precisasse de promessas e...

Promessa é um acordo interessante, principalmente as que fazemos com os santos. Tem sido objeto de meus estudos. A gente envolve o santo com pedidos que julgamos não dar conta sozinhos e depois atordoamo-los com os pagamentos. E tem cada pagamento que só Deus poderia imaginar, não cabe na cabeça desta fiel. Mas não pensem que estou subestimando, de maneira alguma, aliás, há algumas manifestações de devoção que me emocionam intensamente.

Inúmeras vezes vieram lágrimas aos meus olhos enquanto testemunhava os sacrifícios do devoto para saldar sua dívida de promessa. O que não me convence é promessa feita para outrem. Pedem por nós e nos comprometem com cortes de cabelo, destinos vocacionais, compromissos anuais e a imaginação dá conta de uma infinidade de possibilidades.

Já fui inocente com esta estratégia de negócios celestiais, atualmente tenho sido mais prudente. Quando meu coração necessita de auxílio, peço, confio e agradeço, não tenho barganhado mais, amadureci nesta relação.

Promessas para os amigos, filhos e companhia ilimitada, não faço. Pouco dou conta de cumprir o cotidiano. Resolvi amadurecer nisso também e viver com as forças que tenho e as que Deus me permitir. Só prometo fazer o bem e evitar o mal.

O assunto promessa invadiu minha mente porque considero que as únicas promessas que jamais devemos deixar de cumprir e muito menos barganhar em seu cumprimento são aquelas que nos fazemos. Se não valemos nossos sonhos, não valemos para mais nada.

Há mais de vinte anos, estava observando alguns papéis quando vi uma foto da Torre Eiffel, sempre sonhei em viajar pela Europa mais do que por qualquer outro lugar, talvez por minha antiga paixão pelos livros e pela História, me prometi, com arroubos de juventude, que um dia estaria sentada em um café por algum boulevard em Paris e escreveria em papel de embrulhar baguete que fosse. Prometi, cerrando os punhos, batendo firme o pé no chão e sentindo as batidas de meu coração. Rabisquei este momento em folha de caderno pequeno. Guardei.

Aqui estou, faço agora essas linhas para pagar minha promessa.

Já não me importam catedrais e castelos, não vim unicamente ao encontro da Velha Senhora, não vim só pelos romances que li, mas pelos que pretendo escrever. Vim não por roteiros que me levassem a Deus, pois ele jamais me permitiu a solidão de sua não existência, aqui estou em busca de gente que respirou como respiramos, agora, eu e você que me lê. Estou em busca daqueles que imortalizaram, mas antes de tudo viveram intensamente e até mesmo morreram porque mais forte que o contexto, era a verdade que os impulsionavam. Visito memórias e lugares de pessoas que acertaram e erraram, criaram, amaram, não foram amadas, sofreram, enfim, como cada um de nós, viveram.

Tomo um café, fecho o computador, respiro fundo e observo ao lado minha filha, espalhando coisas pela mesa, ela, um carinho que o destino me quis fazer, a menina que fui permanece nas linhas que rascunho. A pequena ao meu lado cumpre a foto que se instalou em mim, muito criança sonhava com coisas grandes para uma criança, sonhava com a liberdade de expressão, sonhava com a verdade incontida dos erros que não nos permitem cometer, sonhava com um Deus que não fosse cruel e com bons-dias calorosos ao amanhecer.

Tudo se realizou antes de Paris.

 A Sabedoria e a Estratégia de Guerra parecem distantes uma da outra , mas  comportam a mesma pedra?

Um rei mandou construir um lugar para cuidar dos soldados destruídos pela guerra. Foi preciso sabedoria para não lhes abandonarem à sorte e aos pensamentos de revolta.

 À beira do Rio Sena está o Museu das Armas, localizado em um imponente prédio no centro de Paris, preserva para nossos olhos coleções de uniformes, armas, artilharia, e objetos militares de todas as épocas, Primeira e Segunda Guerras Mundiais.

Está lá o Mausoléu de Napoleão. As 'circunstâncias o favoreceram' ,como foi previsto.
  
Encontrados em campos de batalha...

... realizadas por homens...

... contra outros homens!

 Prédios e armamentos construídos por homens sábios para que não se esqueça as guerras.

Mas os homens também fazem jardins.

 Plantam flores em sacadas e vasos e esperam o sol e a chuva, que sempre virão?

 Homens também permanecem. Fui em busca desses humanos que nasceram, cresceram, amaram, sofreram, adoeceram, pecaram...

 ... e não viram os nossos tempos. Mas, foram capazes de imaginar tempos que nem se quer construímos, ainda!
 Por estas ruas, caminhei em busca dos mistérios...

... que se revelavam gigantescos após ultrapassar uma pequena porta.

 Homens que legaram a si mesmos.

Que ainda nos obrigam a pensar e a não deixar de fazê-lo, pois nem sempre, pensar com liberdade de expressar, foi possível.
Uma visita para Voltaire.
  
 O Panteão de Paris é um monumento situado no monte de Santa Genoveva . À sua volta estão alguns edifícios de suma importância, como a igreja de Saint-Étienne-du-Mont, a Biblioteca de Santa Genoveva, a Universidade de Paris-I (Panthéon-Sorbonne) e o Liceu Henrique IV.


Aqui pensei muito no valor da escrita, todos os seus valores, mas muito mais no valor da leitura.

 Uma reverência para Rosseau.

 Somos pequenos em relação a muito do que construímos, mas vivemos em busca da beleza, das certezas...
 ... da vida com...



Sônia Gabriel

Um comentário:

Dona Ceci disse...

Sonia, estou aqui para parabenizá-la pelo belissimo formato de seu relato de viagem a Paris. Também estou me preparando para realizar esse sonho antigo - me aconchegar no berço do humanismo ocidental, do qual somos herdeiros distantes. Para não perder nenhuma de suas sugestões, tomei a liberdade de anexá-lo ao meu blog pessoal.
Na volta, compartilharei com voce as minhas impressões. Cecília