(Jornal de Caçapava, 15 de fevereiro de 2013.)
Alguns dias longe de casa, sem computador, sem televisão, sem rádio, sem celular. Que milagre! Perguntei ao meu filho se ele estava sentindo falta do aparato tecnológico, nem fez conta. Os dias cheios de visitas, abraços anosos guardados por muito tempo, gente chegando, gente saindo, gente fazendo questão e exalando gentileza.
Ouço causos como o da porca com as tetas repletas; meu jovem tio, de bicicleta, seguiu-a para ver aonde ela iria, deu com um buraco, muito fundo, resultado de uma enxurrada devido tromba d’água. Sentiu medo, não se atreveu a continuar; aquele animal não era coisa deste mundo, não era mesmo! Tinha algo de estranho, de pavoroso. Diante da dúvida, usou da esperteza de seguir embora e quando chegou ao local de inicial destino, ficou sabendo que o doente que penava para morrer, na solidão da casa, havia perecido, mas com certeza, já estava assombrado, pois não havia praticado um só bem durante a vida.
Como se contam histórias nessas noites de ventos sofisticados! Boa Vista, São João do Manteninha, já pertinho da terra verde, morros e pedras gigantes, almas poetizando vidas singelas, que ante olhos desavisados poderiam ser vazias. Não são! Aqui, nesse canto de gente vigiadeira de fatos, as árvores rezam, pois os homens andam descrentes. Mulheres puxam terço, elas não perdem a esperança. Rezam por seus homens, seus pais, seus irmãos e seus filhos. As mulheres rezam. As árvores também. O vento seca minha roupa no varal imenso, mesmo à noite, meu vestido vermelho, envelhecido de tanto uso, sacode as flores que Ludmila Saharovsky já determinou caírem formando um tapete, eu quase sinto o perfume delas impressas ali, em tecido insosso antes do desenhista. Depois do esforço de secar, o vento leva notícia minha para quem?
Um lamento pela falta da chuva de dezembro. Ah! Não choveu no dia de Santa Luzia – não choveu – que será de nós? Pobre tia, tão preocupada com suas plantas e criação. A pedra não está jorrando água. A queda está vazia. Será que a porca passou por aqui? Que tristeza! Mas, a água que permanece, córrego fino, porém firme, mantém rude e frágil verde o pomar. A gente se alimenta, tem fruta guerreira de árvore rezadeira zelada por mulheres que puxam terço por seus homens, pais, irmãos e filhos.
Sônia Gabriel
São João do Manteninha - MG , 2013.
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