(Jornal de Caçapava, 08 de fevereiro de 2013.)
Algumas ocorrências escolares me trouxeram para estas linhas. Há tempos venho escrevendo crônicas, sobre o cotidiano escolar, que pretendo organizar em livro. Nada acadêmico, nada para os manuais, nem para as estantes pedagógicas. Venho fazendo um passeio pelos anos de trabalho que tenho dedicado ao conhecimento e às pessoas. Proponho dialogar com quem está, esteve ou pretende estar em uma sala de aula, este simbólico lugar de encontros e embates, desafios e descobertas.
Nas minhas lembranças, principalmente (lá se vão mais de dezoito anos de ofício), tento aperfeiçoar um olhar no dia-a-dia da escola; atenção ao detalhe, ao aparentemente insignificante, e, tenho conseguido polir muito das construções internas que movimento em mim sobre o que fazemos de nossos sonhos quando nos deparamos com os sonhos alheios.
Quem atua em sala de aula (muitos diriam enfrentam) é cidadão como os que ocupam as carteiras escolares, apertam o sinal, organizam os corredores, atendem na secretaria, servem a merenda... É pessoa que obstante seus títulos e diplomas luta pela vida e muitos pelo essencial para sobreviver. Já assisti professores brigarem com a gestão escolar para poderem comer merenda junto com os alunos, pois o que recebem não dá para almoçar em restaurante. O conhecimento que alimenta suas almas pode pouco diante da escassez de valor, reconhecimento e ética. A aura que reluzia a profissão do saber anda necessitando de brilho, de zelo. Diante de tanto vazio, o professor parece se deixar levar pelas diversas interpretações do que deveria ser, sendo ele tão pouco sabedor do que é.
Somos todos educadores (é a nova máxima), mas há que se considerar nossa profissão de professores, se para ela nos preparamos. Não tenho conseguido identificar um posicionamento filosófico em muitos professores. Talvez, o meu também esteja desgastado, com falta de manutenção. Mas, como imaginar alguém querendo ensinar, desvendar conhecimento sem saber-se? Creio que sermos todos educadores esteja colaborando com aqueles que estão na profissão e não são da profissão (como já colaborou por má aplicação e entendimento o Construtivismo). Caminhar no discurso vazio, inconsequente e superficial é muito oportuno para os que beberam na formação inadequada e lhes servem o salário que a tantos outros profissionais indigna. Parece ser até muito, pois nada se comprometem com aqueles que sacrificados pelos impostos lhes permitem ao menos receber um hollerit.
Nesse microcosmo didático de alunos e professores respiram pessoas que espalharão seu ar no infinito de seus horizontes, urge saber que o exemplo ensina capciosamente mais que as palavras e atividades pedagógicas. O exemplo nos denuncia, nos evidencia e nos oferece acento no alheio julgamento de nós. Quem somos, por essência, sempre escapa, transpira por nossos poros, mesmo que tenhamos o talento de principal ator da companhia. E, por mais que subestimemos a capacidade reflexiva de outrem, há aqueles, discentes que sejam, que podem e refletem.
Não sou discípula dos modismos da Educação, estudo muito para aprender e exerço minha profissão com muita seriedade. Certa vez, o historiador Cláudio Bertolli Filho disse que eu “não tinha cabeça de canequinha”, parece que acreditei e tenho muita responsabilidade com meu trabalho. De vez em quando, me abato, chego a ter medo de dizer que gosto do que faço, haja vista que preciso evitar os "hematomas" em minha nada gloriosa carcaça, mas há sempre um cantinho das salas de professores do mundo aonde a gente fala sobre Educação. O ânimo se regenera. Lembramos-nos que somos iguais e nos voltamos para os olhos que em nós sempre buscam algo, mesmo que estejamos incapacitados de notar.
Sônia Gabriel
3 comentários:
Nobre colega!
Muito bom!!!
Um abraço,
Amparo.
Oi amiga!
Muitas vezes sinto-me assim também... as forças parecem ir e basta um pequeno gesto ou palavra que elas voltam! A missão dos educadores é árdua! Bom domingo! bjs,
Cris.
Oi Sônia ,
Que maravilha sua crônica, continue sempre assim, fantástica.bjs
Ordália de Almeida
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