domingo, 19 de maio de 2013

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Escrevo porque não aprendi a falar.



(Jornal de Caçapava, 17 de maio de 2013.)


"Escrevo porque as letras sempre me arrastaram para a vida.
E você, escreve por quê?"


    Abro meus e-mails e vejo este belo texto da escritora e pesquisadora Ludmila Saharovsky. Geralmente, faço um comentário, ela sempre me inspira. Mas, desta vez, não consegui. Tive que refletir um pouco mais. Voltei ao tempo em que Dona Marlene, na antiga escola Tito Máximo, em Jacareí, me ensinou a ler e escrever, foi amor imediato. Sempre fui encantada pelas curvas das letras. Não gosto de letra bastão. Até hoje, com tanta tecnologia à disposição, de vez em quando, aprecio escrever à mão utilizando lápis ou caneta com ponta fina.

    Busquei algumas respostas e nenhuma delas me satisfez até que relacionei a escrita aos meus silêncios. A tagarelice alegre que tenta acolher a todos sempre foi minha maior ferramenta de preservação. Sim, eu me preservo. Tenho esta dívida comigo. É um exercício custoso, em dados momentos angustiante, mas necessário.

    Todas as vezes que não consigo dizer algo, escrevo. Assim sendo, escrevo porque não aprendi a falar. Cada engolida a seco, cada calar-se para não destruir o que espera meu próximo, cada silêncio imposto desde sempre e até sempre (eu sei), rompe-se em letras.

   Mas, não apenas. Não, as letras não me servem, unicamente, para burlar sofrimentos. As belezas que minha boca não sabe expressar também são salvas por elas, benditos fenícios! Quando o amor transborda e meu peito não tem forças para soltar os gritos, quando a ternura se aconchega e me encharca de preguiça vocal, quando a esperança toma conta de cada músculo, o corpo se impele para a realização, os poros cantam e ninguém pode ouvir, escrevo.

Sônia Gabriel


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