quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Águas assombradas.



(Jornal de Caçapava, 19 de setembro de 2014.)


Da convivência, inicialmente forçada, dos povos europeus, africanos e indígenas nasceu uma comunicação que frutificou em lendas, causos e mitos envolvendo o misterioso, o que assombra e maravilha gerações e gerações de ouvintes que se encarregam de passar, oralmente, adiante o que a encantou, perpetuando saberes.
Dessa rica tradição oral, temos personagens que em cada canto do Brasil adquirem características que os contadores se incumbem de agregar.
A cobra imensa que povoa as lendas amazônicas, também é encontrada nas lendas do sudeste brasileiro, o réptil cresce tanto que abandona o rio e atravessa a terra, por onde ela passa surgem os igarapés que são braços estreitos dos rios e têm pouca profundidade.
Diz a lenda que a Cobra-Grande pode se transformar em embarcações e assim enganar suas vítimas; avisados da presença dela nenhum pescador se atreve a ir para o rio em busca de peixes. 
No Vale do Paraíba, a Cobra, a Serpente, o Jacaré e o Minhocão são personagens que o rio Paraíba hospeda em ricas lendas. Também a bela e enigmática Mãe d'água costuma dar o ar de sua graça por nossas sinuosas memórias banhadas pelo Moço Bonito.
Já o Caboclo d’água tem poderes sobre as águas e persegue pescadores e viajantes nos rios. Quando sente antipatia pelo viajante o apavora e vira sua embarcação. Segundo o folclorista Câmara Cascudo, o caboclo que mais aparece nas descrições dos depoimentos é baixo, grosso, musculoso, cor de cobre, ágil e sempre enfezado. Muitas histórias até hoje povoam o imaginário daqueles que ainda trazem na memória o tempo em que o rio Paraíba impunha sua personalidade ao lugar. Foi de suas águas que três pescadores recolheram a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Santa que conquistou a devoção popular e foi consagrada Padroeira do Brasil.

Sônia Gabriel


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