quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Despedida poética.



(Jornal de Caçapava, 21 de novembro de 2014.) 

Esse ano está sendo um teste de sobrevivência para os que gostam das palavras escritas. Ainda não fiz uma homenagem à altura desse menino poeta, pois eu não estou à sua altura... Mas voltei aos seus livros. Reli com aquela dor de saber que não teremos mais daquilo que sua alma tinha, cuidemos do que ele nos deixou. 
Nunca saímos os mesmos de um livro. Muito menos quando voltamos ao mesmo livro...
Com as leituras dos livros do poeta Manoel de Barros, eu aprendi a observar. É o que tenho feito por tantos anos, observo. Presto atenção nas pequeninas coisas, aquelas que passam despercebidas por acharmos (como ele diria) que são desimportantes. Olho com muito cuidado para dentro de mim e na possibilidade de não me maltratar e evitar ser motivo de sofrimento ao próximo, deixo passar o tempo. Continuo a observar. 
Manoel de Barros olhava com atenção cada pedrinha esperando pelo movimento; cada folha caindo sabendo-se alimento para a terra devolver à planta; cada fruto amadurecendo sabendo-se alimento também para mãos que não plantam; cada vida se fazendo nos pássaros, nos peixes, na chuva...
Ele não olhava por nós, não nos queria obrigar nem convencer a ver... generoso; ele só via e contava o que via e a gente quando lia escolhia se ver ou não queria ... 
Sábio dominava palavras simples construindo poemas profundos.

Viva o poeta das coisas (aparentemente) desimportantes!

Sônia Gabriel

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