(Jornal de Caçapava, 07 de abril de 2017.)
Alguns povos da Antiguidade, em especial os judeus que nos são contemporâneos, honram seus hóspedes como a pessoa mais importante da casa, durante sua estadia. Toda atenção, gentileza e cortesia são oferecidas, pela família, para com aqueles que são visitas.
Nesse momento de deificação do individualismo, é muito comum eu escutar em conversas, nos diferentes ambientes que frequento e trabalho, o desgosto de muitas pessoas em receber visitas. Logo se imagina que sejam visitas indesejáveis, que infelizmente existem. Mas a lista é recheada de pais, mães, irmãos, cunhados, primos e amigos. O que me leva a considerar que a questão, em muitos casos, é não gostar de receber. A princípio parece ser uma contradição ao espírito do brasileiro. Uma contradição também se compararmos ao crescente mercado de venda de produtos e materiais para ambientes de jardim e churrasqueira (os agora espaços gourmet); espaços que só fazem sentido se compartilhados.
Quem consegue pensar num jardim para uma pessoa, fazer churrasco só para si, assar pizza para uma linda noite sem amigos ou parentes? Eu não consigo. Gosto de companhia nesses momentos, gosto de visitas, gosto de arrumar a casa para receber. É verdade que nem sempre podemos receber como desejamos, dado compromissos de trabalho e com a família, mas sempre haverá um feriado prolongado, um domingo de manhã, uma tarde de sábado, um tempinho para um café, um aceno (mesmo que do carro), uma mensagem (que está na moda agora), um sorriso para todos.
Uma vida sem família e amigos não me parece ser propósito para a mesma. A falta do outro é triste. Solidão só é boa quando você a quer por um dia ou alguns minutos. Nos defeitos e qualidades daqueles com os quais convivemos, nos lapidamos e corrigimos. Um abraço, uma ajuda, um ombro são préstimos de valor incalculável.
Uma casa de portas fechadas é triste; uma casa que não acolhe, que não é espaço que desperte o prazer de receber visitas não é lar. Lar, por essência, acolhe, aconchega, agrega. O outro nos humaniza. Marque uma visita para alguém que faz tempo que não vê. Chame alguém para almoçar, jantar, abra as portas da casa e do coração, passe por essas portas e janelas reais. Abrace. Leve pão, bolo, pudim ou nada, mas leve principalmente você.
Quanto menos convivemos, mais consumimos; quanto mais as famílias diminuem, mais elas consomem. Já pensaram nisso? Menos espaço para o consumismo, para a violência e para a tristeza que contamina.
Vamos tomar um café?
Sônia Gabriel
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