Meia página
Tinha meia família. Vivia de meio emprego. Foi meio amada. Cortava ao meio as refeições.
Tinha meio pai. Uma mãe meio doente. Uma meia irmã com riso fácil, meio de ver-se de caído lábio sempre ressecado.
Uma vida inteira de inteira solidão.
Acostumada com a dor, espalhava-a pelos cantos como meio de alívio.
Suportado pouco mais de meio expediente, foi para casa. Deixou a porta meio aberta.
Bebeu meio copo de água. Deitou-se no meio da vazia cama imensa. Dormiu apenas meia-noite.
No dia seguinte, meio contrariada, viu-se acordar.
Foi trabalhar...
Sônia Gabriel
2 comentários:
Interessante nanoconto. Tudo pela metade rs
Muita gente vive pela metade, e se acostuma a ponto de achar e defender que todos deveriam fazer o mesmo. Abraços.
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