(Jornal de Caçapava, 13 de setembro de 2013.)
Há alguns anos, venho reunindo lendas e histórias que o povo valeparaibano conta sobre tesouros escondidos, enterrados; tesouros amaldiçoados; tesouros que criaram personagens encantados. Tantas histórias de tesouros pelo Vale do Paraíba têm justificativa, pois a região banhada pelas águas do rio Paraíba do Sul tem participação direta no período da mineração do Brasil Colônia e, depois, contando com personagens ambiciosos, cheios de mistérios e meandros para não verem suas fortunas serem furtadas.
Fortunas que às vezes ficavam tão bem escondidas que sobreviviam aos seus proprietários legítimos ou nem tanto.
Uma história diz que quem passa pela igreja de São Benedito, em São José dos Campos, talvez não saiba que sua construção está relacionada a um desses tesouros. Segundo contam, ela começou a ser erguida por volta de 1870. Um dos construtores respondia pela graça de Zé Taipeiro. O homem, um misto de pedreiro com carpinteiro, era o responsável pela construção que se valia de escravos. Dizem que, por falta de dinheiro, a construção teve que parar várias vezes. A igreja chegou a ser inaugurada sem estar terminada.
Um lavrador conhecido como João Ribeiro, do Bairro do Jaguari, estava reformando um velho casarão, quando ao quebrar uma das paredes, descobriu um panelão de barro enterrado. A vasilha estava cheia de barras de ouro. O homem, diante de tanta sorte, resolveu agradecer a Deus, doando para a igreja dinheiro suficiente para terminar a construção, concluída alguns anos depois.
Tesouros estão tão impregnados no imaginário coletivo quanto a vontade de enricar (como se dizia antigamente). A ganância, a ambição, a avareza também fornecem elementos ricos para a construção de tantas histórias. A relação de exploração dos mais abastados para com os menos afortunados ganha na boca popular nuances de anedotas, de encantamento, de assombro.
Sim, temos muitas histórias. Continuo realizando o levantamento e graças aos nossos persistentes contadores de histórias; graças aos avós, tios, pais que perpetuam a memória coletiva nos finais de tarde, nas praças, jardins e varandas, nos enveredamos por um mundo de fantasias e realismos de nossa tradição oral.
Sônia Gabriel
3 comentários:
Maravilha, minha amiga. Vc é mesmo um verdadeiro tesouro. Degustando seu texto já nos faz salivar, imaginando o que vem por aí. Que venha logo! Pércila
Sônia, adoro essas histórias!
Vou levantar direitinho as informações de uma que minha avó contava, de uma caverna que existe na serra da mantiqueira e que fazia parte da propriedade do meu bisavô; assim que tiver os detalhes, passo pra vc... Mistura tesouro e escravos, feitores e assombrações.
Que bom, Ana! Quero muito e envia também seu nome completo como fonte. Grande abraço.
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