terça-feira, 24 de setembro de 2013

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: História e histórias que o povo conta no Vale do Paraíba - parte I



(Jornal de Caçapava, 16 de agosto de 2013.)

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os objetivos gerais da área de conhecimentos históricos preconizam o conhecimento e compreensão do universo em que vivem os alunos em famílias e em comunidades, numa perspectiva socioambiental, através da construção de repertórios histórico-culturais. A partir desses objetivos, ampliam-se as possibilidades de aprendizagem da disciplina História considerando-se o Vale do Paraíba palco dos principais fatos ocorridos no Brasil, protagonista da formação histórica nacional desde os primórdios da colonização, passando pela forte presença de bandeirantes, jesuítas, escravos, mineradores, barões, colonos, imigrantes, tropeiros, escritores, músicos, indígenas, presidentes, santos etc. A região é banhada pelo rio Paraíba do Sul, cortada pela rodovia Presidente Dutra, estrategicamente situada entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Entre a Serra da Mantiqueira e Serra do Mar, englobando 39 municípios. 
Às margens do rio Paraíba do Sul a história se constrói, com presença mestiça. Caminhando por suas margens, desbravando suas matas, alterando a paisagem, evidenciando os resultados do encontro entre negros africanos, europeus e indígenas. A ocupação da Bacia do rio Paraíba do Sul teve início no século XVI com o apresamento de indígenas que habitavam a região. A mão de obra indígena era utilizada nas lavouras de cana-de-açúcar, continuou a ampliação, com a exploração do trabalho dos escravos trazidos do continente africano, da ocupação durante os séculos XVII e XVIII com a busca do ouro. Deste período, o Vale do Paraíba guarda as trilhas e a Estrada Real, descaminhos e caminhos de escoação de ouro e pedras preciosas. Do final do século XVII e durante o século XIX reinou na economia valeparaibana, principalmente no Médio Vale do Paraíba, a produção cafeeira.
De caminho para as Minas Gerais, no período da mineração, ao intenso Ciclo do Café até o advento da tecnologia, a região resguarda patrimônios culturais, históricos, arquitetônicos e ambientais em suas dimensões materiais e imateriais. A Tradição Oral é o rico patrimônio de uma parcela da sociedade brasileira que, excluída da educação formal conseguiu, oralmente, durante séculos, perpetuarem as histórias contadas por seus antepassados, enriquecendo e preservando o imaginário coletivo de caiçaras e caipiras da terra brasilis. Imaginário construído por episódios históricos e cotidianos alimentados pela sensibilidade e religiosidade do interiorano.
Apesar de pouco encontrar referências ao Vale do Paraíba nos livros didáticos, adotados nas escolas, não se pode perder a oportunidade de trazer essa riqueza histórica e cultural para a sala de aula. A proximidade com o fato histórico é um dos grandes facilitadores para a aprendizagem. A historiadora Ana Enedi Prince resume: 

“As informações locais visam fornecer aos alunos a formação de um repertório intelectual e cultural, objetivando a possibilidade do estabelecimento de identidades e diferenças com outros indivíduos e com grupos sociais presentes na realidade vivida.” (PRINCE, 2006, p.12)

Neste contexto, não reconhecer a importância da Tradição Oral é avocar o risco de conhecer e legitimar apenas um lado da história, aquele em que o registro escrito, iconográfico foi possível. Nos relatos orais também há a riqueza de quem fez/faz história, mas nem sempre teve/tem voz. A linguagem das comunidades se manifesta por meio de palavras, danças, músicas, procissões, pinturas, comidas, artesanatos... As histórias contadas pelo povo são registros de tempos históricos nem sempre relatados nos livros didáticos. Com um olhar um pouco mais apurado é possível encontrar a busca pela justiça, a padronização de costumes, as transformações religiosas, culturais e sociais, é possível sentir o repúdio à desigualdade, à guerra, à destruição do meio ambiente.

(Continua)


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