Uma história de tesouro
Em São Luiz do Paraitinga, já teve muito ponto de parada de tropeiro[1], lugar onde os viajantes descansavam das longas jornadas de trabalho. Além de transportar mercadorias, todo tropeiro sabe muito bem contar uma história, principalmente se for de assombração.
Certo tropeiro, todo prosa, contou que das muitas fazendas que os recebiam, havia uma muito velha que ninguém queria. Era sempre rejeitada por temor de encontrarem assombração. Quem já tinha se atrevido a pousar por lá, dizia que a certa hora da noite aparecia um homem muito grande, aterrorizante, que corria atrás dos tropeiros com uma cavadeira na mão. Mas, sempre tem um corajoso que quer desafiar a assombração.
Pois aconteceu que um tropeiro, mesmo sabendo do assombramento, resolveu que iria dormir lá. Não deu outra: tarde da noite, algo muito estranho começou a acontecer. Um barulho esquisito misturado com uma voz aterrorizante avisava que iria cair. O tropeiro mais cansado do que com medo, desafiou que caísse logo. A assombração do homem muito grande apareceu, e constatando que o assombrado não estava nem um pouco assombrado convidou-o a segui-lo. Agora já um tantinho incerto, mas com muita curiosidade, o tropeiro foi atrás.
Começou a perguntar para onde iriam e o que fariam, mas a assombração nada respondia. Quando alcançaram uma clareira no terreiro da casa, o tropeiro foi instigado a cavar um buraco no chão. O fez e não acreditou quando encontrou uma grande vasilha parecendo uma panela já enferrujando. A panela estava repleta de ouro.
O tropeiro então viu que a assombração parecia aliviada pelo homem ter encontrado o tesouro enterrado. Aquela alma atormentada, sabe-se lá por qual motivo de ganância, estava aguardando alguém encontrar a fortuna escondida. O tropeiro enricou e nunca mais se soube de nenhuma aparição de assombração por aquelas antigas bandas.
Sônia Gabriel
Ilustração de André Paulo.
[1] Tropeiro é o nome dado aos condutores de tropas: comitivas de mulas e cavalos entre regiões de produção e os centros consumidores. Durante muitas gerações, as comitivas de tropeiros ilustravam as paisagens vale-paraibanas.
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