domingo, 31 de agosto de 2014

Uma história de André Paulo


Uma história com evidente memória afetiva?


Aquele cômodo apertado
André Paulo

 "Imediatamente à direita do pé da escada de concreto, o pequeno cômodo tem sua existência anunciada somente pela porta de alumínio. Dentro, suas medidas se mostram ainda menores. Não por realmente o serem. O espaço está repleto de toda sorte de objetos. Caixas empilhadas, jogadas ou amassadas – contendo de sabão caseiro a plásticos coloridos. Os guardados exalam um cheiro forte. Cheiro de passado. Ou naftalina. 
Lembranças esquecidas que não pertencem mais a ninguém invadem o ambiente num frio e desgostoso movimento. A lâmpada instalada na parede (há anos não é trocada) mal ilumina, deixando o cômodo em constante crepúsculo. Lá não há felicidade.
Mas, é quando um neto chega que ele se transforma. Torna-se o lugar mais vivo da casa, quente e espaçoso para conter toda a imaginação da criança – que ao fim do passeio abandona relutante o palácio, laboratório, esconderijo ou palco.
O porão é ótima babá."


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