quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Uma história de Paulo Roxo Barja, inédita!


Olha o privilégio! História inédita de Paulo Barja para nosso Dia Valeparaibano de Contar Histórias...


ENCOMENDA QUENTE

(P.R.Barja – paulobarja.blogspot.com)

"Bonecas infláveis a qualquer hora, 7 dias por semana”, dizia o anúncio.
Sozinho, carente e sem vontade de se embrenhar mais uma vez na selva de mulheres mal casadas que era aquela cidade, ele resolveu tentar a novidade. Discou. Atenderam e ele fez o pedido emergencial.
De moto, o entregador saiu para levar a encomenda; apressado, porém (“depois dessa tô livre e vou ver a Joana”), acabou entrando numas quebradas perigosas na tentativa de cortar caminho.
Parou num beco e pediu informações sobre o endereço para a primeira pessoa que viu: tratava-se de uma morenaça de parar o trânsito, vestida com roupas sumárias. Por um momento, sua mente viu-se ocupada por duas dúvidas:
1) Aquilo na cintura dela era uma microssaia ou um cinto?
2) Dados os quase dois metros de altura, “ela” seria realmente “ela” ou...?
Voltando à Terra, chegou a mostrar o papel com o endereço para a Big Morena (chamemos assim tal pessoa). Prestativa, a moça olhou, parou, pensou e informou o caminho exato: bastava pegar a avenida à esquerda, seguir até o terceiro sinal, virar à direita (na esquina tem uma farmácia), contornar o parque e... “ah, lá pra frente você pergunta de novo, já estará bem pertinho, querido!”
Agradeceu e pôs-se a caminho.
Big Morena não perdeu tempo: pegou a moto do parceiro (“Ele é bonzinho e tá me devendo essa”) e saiu em disparada rumo ao endereço. Lá chegando, tocou o interfone. “Pode subir”, foi a resposta seca de Sozinho, que a essa altura já estava na metade da garrafa de vinho, aberta para criar clima entre ele e ele mesmo. Porta entreaberta, ele não resistiu à entrada da Big Morena. Resistir como, se ela era tão maior que ele? Não só maior, como também mais... ah, deixa pra lá.
– É cento e vinte, né? Ué, onde está a boneca?
– Querido, você deu sorte: uma vez por mês a gente faz promoção e você foi o nosso vencedor de Agosto! A boneca... sou eu... E deixou cair a jaqueta. Não vestia nada por baixo a não ser o cinto (ou microssaia, não sei).
Sozinho abriu a boca, mas não chegou a emitir uma palavra. Em poucos instantes, eram só gemidos e interjeições apenas vagamente humanas. Minutos depois, estendida no tapete da sala, Big Morena relaxava, fumando um cigarro, quando ouviu o interfone. Era a encomenda. “Pode subir...”
Porta entreaberta e o velho truque: “Pode entrar, estou pegando o dinheiro...”
Mas o motoboy desconfiou um pouco daquilo (quem trabalha nesse ramo é desconfiado) e ficou ali, com o pé na porta, quando Big Morena apareceu (“uau”) no corredor (“meu Deus do céu...”) e foi logo dizendo, sem nem disfarçar o canivete na mão: “Pode vir, querido, que ele não era de nada e eu ainda to cheinha de fogo...”
– Fogo, é? Virgem Santa!
(Por que será que a gente fica mais religioso nas horas de grande emoção?)
O motoboy foi descendo a escada e gritando – por sorte eram só três andares – até cair quase nos braços de um dos bombeiros que chegavam no prédio.
– Foi daqui que teve denúncia de incêndio? Cadê o fogo?
O “fogo” atendia pelo nome de Big Morena – agora, se os bombeiros tiveram ou não sucesso na contenção das chamas, isso eu nunca vou saber: só lembro que peguei a moto e sumi rapidinho dali.




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