Vinícius, o Tempo lhe ouviu! Obrigada por nos permitir ouvir também.
Ao Tempo
Vinícius Novaes
Foto do autor.
"Ô, Tempo, não quero tomar aquilo que o senhor tem em abundância. Aliás, posso chamá-lo de você? Sinto-me tão íntimo que fico à vontade para dispensar o senhor. Pode ser? Voltando: eu escrevo para lhe pedir um pouco mais de atenção. Atenção, não – tempo mesmo. Preciso mais de tempo, Tempo. Não sei se é possível.
Preciso do senhor – desculpe-me, de você – para viver mais. Estou cansado das sensações efêmeras. Sim, estou cansado daquilo que dura pouco. A única coisa que anda durando por aqui é o caos. Minha vida anda ofegante, respirando com pressa. Você deve saber muito bem disso. Não sei há quanto tempo, Tempo, eu vou acordando no pequeno trajeto do elevador até a garagem, penteando os cabelos no espelho do elevador. Não sei há tempo o meu café é tomado em frente ao volante no meio do congestionamento.
Sem tempo minha vida ganha mais saudades.
Só queria ter tempo para ver o caos pela janela, bem de longe. Queria ter tido tempo para escrever este texto à mão, deitado na minha cama, como fazia com as lições de casa – e não como fiz: escrevendo entre uma ligação e outra, entre um e-mail e outro, tendo ideias entre uma tragada e outra no cigarro nervoso. Só queria ter tempo para sentar de pernas cruzadas e olhar para o nada sem ouvir os minutos me alertarem de que eu preciso subir para continuar aquilo que deixei de lado para viver um pouco.
Ô, Tempo, não quero muito mais do que poder responder uma mensagem sem dizer que estou correndo. Ajude-me a mudar esse texto. Quero poder mastigar a comida aquele tanto de vezes que falam pra gente mastigar. Quero pensar, apenas, no meu presente. E se tiver que pensar no futuro que seja para combinar uma viagem para ver o tempo que você vai me dar. Por favor, Tempo, tire as pilhas do seu relógio. "
Um comentário:
"És um senhor tão bonito quanto a cara do teu filho. Tempo, tempo, tempo, tempo, faço um acordo contigo"
Postar um comentário