(Jornal de Caçapava, 11 de setembro de 2015.)
O que mais me incomoda no quesito solidão não é nem mesmo
senti-la, mas a obcessão dessa sociedade individualista dita intelectualizada
em querer nos empurrá-la goela abaixo. Cheguei à conclusão que ou não posso
almejar essa intelectualidade ou sou emocionalmente frágil, dependente da presença
humana de forma extremada, pois não consigo apreciar a solidão no sentido estrito
do conceito.
Não faço o gênero coque, cigarro,
janela entreaberta para que a fumaça não escape de todo e o barulho sinalizando
outras vidas não entre de todo, perturbações para meus escritos e reflexões.
Enfim, estou mais para o avental, volante, cadernetas de vacinação e chamada, bloco
de anotações, giz e bons ouvidos para conseguir matéria-prima. Preciso
conviver, não acho graça nas minhas opiniões sempre tão condescendentes comigo.
Necessito do olhar do outro, bom ou não, positivo ou não, de generosa
humanidade ou não, mas externa ao meu modo de ver e viver o mundo.
Alguém me disse que a solidão é
necessária... Sinal de maturidade...
Urge absorver melhor... Entender esse conceito...
Mas voltando à imposição da solidão,
por hora, entendo que o mercado precisa de mais gente só, mais moradias dormitórios,
mais utensílios eletrodomésticos para uso individual, mais carros para um
passageiro apenas, mais gente necessitando de remédios e cuidadores, mais
pratos congelados individuais, mais redes sociais para não ficar tão evidente
algum aspecto negativo da presença da mesma... Como a solidão pode ser
lucrativa! Sem responsabilidades com família, sem filhos podemos obter mais
bens materiais, investir mais em nós mesmos, cuidar mais das nossas
necessidades e acumularmos mais do tudo que nosso dinheiro tão só nosso pode conquistar.
Mais filhos, mais gastos, menos tempo para nós do nosso esforço produtivo? Parece
que para o mercado que se esforça tanto com propagandas, filmes, novelas para
nos convencer... Sim.
Certamente alguém lucra com tanta
individualidade, mas quem? Quais corporações? Quais vendedores dos antídotos
para o mal que distribuem? Que parte de nós é mais feliz sendo mais solitária
disfarçada de individualista? Ao menos para buscar essas respostas teremos que
conversar, não é mesmo?
Sônia Gabriel
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