quinta-feira, 16 de junho de 2011

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: A derradeira carta.

 
(Jornal de Caçapava, 10 de junho de 2011.)




Foi uma experiência muito interessante. Escrever cartas singelas, vindas do coração, dos sentidos cotidianos. Foram muitas cartas para tantos amores. Algumas eu guardei, quem sabe, um dia, enviarei. Falar de amor, com amor, não é tão fácil. É preciso nudez de alma. Durante os dias em que as cartas foram nascendo, todas as vezes que sentava para escrever, vinha-me ao coração o rosto de meu pai. Como uma criança, aceitei as lembranças e as vivi.

São José dos Campos, 31 de maio de 2011.

Meu amado pai,

Deram-me a tarefa de escrever algumas cartas. Com a razão do coração, todas as vezes que me sentei para realizar a deliciosa missão, me lembrei do senhor. Assim sendo, resolvi não mais impedir o desejo de minha alma.
Pai, aqui estou.
Quanta saudade eu tenho do senhor. Não teve dia em que eu não pedisse a Deus, aquele que o senhor me ensinou a amar, que o proteja na eternidade.
Já faz tanto tempo e mesmo assim não me acostumo. Já não sinto dor, mas a saudade é companheira e ela aperta, pai, quando os meninos crescem um pouco mais, quando me perguntam sobre como era o meu pai.
Será que o senhor me vê? Onde já se viu uma mulher de 39 anos fazer pergunta de uma menina de 13 anos? Mas, foi assim que o senhor me abraçou pela derradeira vez. Eu cresci, meus irmãos também. Nos casamos e lhe demos netos. Fico procurando em cada um deles, algo seu. E eles não me desapontam.
Pai, o senhor fez muita falta, sonhei em tê-lo para espantar os rapazes; esperei-o para dançar a Valsa de 15 anos que não tive; fiquei procurando seu rosto quando minha mão foi pedida; o procurei para entrar comigo na igreja; chamei-o para me amparar nas dores do parto e para me acompanhar na longa espera de mais uma menina na sua descendência. Lembra-se? O senhor nos dizia que éramos princesas!
Não permiti que nenhuma de suas histórias fosse esquecida.
O homem alto, de olhos verdes e cabelos anelados, meu primeiro amor.
Autoritário, frágil de suas lembranças.
Devoto, cantor de canções antigas, está presente em nossa caminhada.
Quanta saudade, meu pai.
Será que o senhor me vê?

Sônia Gabriel

Um comentário:

Anônimo disse...

Professora,a viagem deve ter sido perfeita,queria ter ido :/,mais não estou mais no Rui Dória,fato que atrapalhou um pouco as coisas,mas tudo bem.Quando tiver a exposição,por favor,me chame.Beijos,Andreza.