quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Lua imensa.



(Jornal de Caçapava, 27 de setembro de 2013.)


A Lua imensa no céu encheu meu coração de dor. Ouvi o grotesco reclamar da mulher que não tem filhos, lamentando o sorrir da fraterna. Senti pena, uma pena tão grande que não consegui me comover, não houve respiro para suportar lamento.
Tinha uma Lua imensa no céu e meu coração encheu de dor. A moça bonita, de formas esculpidas no tempo ocioso de amor e pessoas para amar, só, reclamante de sentido que aponta no alheio, pois não suportaria reconhecer em si, resmungou, mas ninguém ouviu.
O céu estava enfeitado por uma Lua imensa e a dor invadiu meu coração. Tinha a criatura rente ao chão, rechonchuda da fartura que o dinheiro cozinha, mas vazia de alma que viu, ouviu, sentiu e se permitiu amar o próximo em sua oferta de si e apenas.
Enquanto a Lua imensa no céu recheava páginas e páginas virtuais, escutei um choro real de criança que acabou de chegar; distraí-me da Lua imensa, apreciei o choro novinho, urgente, cheio de certeza da fome que urge, solicitando o afago de quem não suporta mais as alegrias que a vida pode dar. Sofre e apenas.
É, enquanto a Lua imensa no céu roubava a atenção de tantos encantados, eu, sem olhar diretamente para ela, escutava o ruído do vento insistente em não aceitar que a outra, a primavera, estava quase chegando.
Meu coração invadido de estranha dor foi, pelo vento, esvaziado do sentir sem ar. A alegria, empurrada pela brisa, como se ventania fosse, retoma seu lugar. Eu não quero escolher o sofrer.

Sônia Gabriel


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