quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Sobre responsabilidade.




(Jornal de Caçapava, 30 de maio de 2014.)


Ganhei da contadora de histórias e arte-educadora Cíntia Moreira o livro “A força da ternura”, de Leonardo Boff. O subtítulo “Pensamentos para um mundo igualitário, solidário, pleno e amoroso” me tocou. Aprecio muito o tema. O presente foi ofertado no dia do sepultamento de nossa mais ilustre vale-paraibana, Ruth Guimarães. Sinto que tenha sido um carinho para alento do meu coração, quando retornei de Cachoeira Paulista. Entendo que possa ter sido, também, um gesto de homenagem, pois solidariedade era uma das mais marcantes características de Dona Ruth.

Logo nas primeiras páginas, o autor define que “o outro não é o inferno. O outro é o caminho para o céu. No fundo, tudo passa pelo outro, pois sem o diálogo com o outro, com o tu, não nasce o verdadeiro eu nem surge o nós que cria o espaço da convivência e da comunhão. (...) É o outro que faz emergir a ética em nós. Ele nos obriga a uma atitude ou de acolhida ou de rejeição. É aqui que surge a questão do bem e do mal. Quer dizer, daquilo que faz bem ou daquilo que faz mal ao outro”.

Tais palavras me calaram fundo, pois tenho a oportunidade de conversar com os companheiros amantes dos livros e das artes e muito nos ocupamos desse assunto. Desejamos melhorar, buscar em nossa essência o zelo pelo próximo. Eu entendo que querer já é metade do caminho; mas a outra metade, exercitar, é tão difícil! Sabemos o quanto é importante vida comunitária e mesmo assim perdemos tanto tempo na solidão desejada! Sabemos o quanto a presença do outro é referência para nossa construção, mas permitimos tão pouco! Sabemos que a imperfeição do outro é refinado espelho diante de nós, mas não cremos!

O outro é nossa extensão. Não tenho a pretensão hipócrita de enganá-los dizendo que já sei amar todo e qualquer “próximo”, infelizmente ainda não. Mas já sei respeitar; já sei silenciar se não posso contribuir; já sei a prática da tolerância, mas, por Deus, tanto ainda me falta!

Falta a responsabilidade. Leonardo Boff também escreveu que “a relação com o outro suscita a responsabilidade. É a eterna pergunta de Caim, o assassino de Abel: “Sou eu responsável por meu irmão?” Sim, colocados diante do outro, de seu rosto e de suas mãos suplicantes, não podemos nos negar: temos que responder. É o que significa a palavra responsabilidade, dar uma resposta ao outro.”

A quantas anda nossa responsabilidade para com o próximo? E nem digo da responsabilidade que os abnegados e almas superiores praticam, a ideal. Penso, unicamente, por hora, na resposta silenciosa de em nada depreciar quem nos pode ser espelho.

Que exemplos serenos e carregados de simplicidade no exercício de ser solidário não nos faltem, que sejam sempre eternos, que sejam encantados como Ruth e tantos outros que nos ajudam a não apenas passarmos pela vida, mas a viver com dignidade.

Sônia Gabriel


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